quarta-feira, 22 de abril de 2015

OS BANDIDOS ESTÃO EUFORICOS PARA LIBERAÇÃO DAS ARMAS AO POVO

Algumas pessoas acreditam que de posse de uma arma de fogo elas estarão seguras diante da violência urbana. O problema que elas não percebem é que possuindo uma arma de fogo elas estarão logo integradas às estatísticas de aumento da violência urbana.
As melhores estatísticas brasileiras mostram correlações que, em resumo, nos dão quatro informações: a posse da arma de fogo não aumenta a segurança do cidadão; a arma de fogo do cidadão tem um caminho fácil, que é a mão de bandido; a arma de fogo nas mãos do cidadão, tendo ele dito que sabe atirar ou não, aumenta a probabilidade dele ferir pessoas inocentes; a posse da arma de fogo envolve quem a utiliza em situações jurídicas (e outras) tão terríveis que, não raro, muitos dos que fazem uso dela acabam por se arrepender.
Essas estatísticas são fáceis de entender, mas há gente que não pode entender estatística. Trata-se de uma matéria do campo matemático, uma área na qual o brasileiro médio sofre. Essa dificuldade com a matemática acoplada a um pensamento conservador, às vezes de forte tendência mágica, alimenta não só tradicionais direitistas, mas também muitos da esquerda.
Aliás, quando se trata se segurança, até povos experientes e com alto grau de escolaridade se deixam levar pela magia. Nos anos sessenta os americanos e os europeus treinavam suas crianças nas escolas da seguinte maneira: elas deveriam correr para debaixo da mesa do professor ou de suas carteiras quando de um ataque nuclear (pois é!). Portanto, quando hoje olhamos brasileiros de peito estufadinho querendo posar no espelho com uma arma na cintura, acreditando que Clint Eastwood não é ator e, sim, um caçador de recompensas rápido no gatilho capaz de enfrentar vários bandidos ao mesmo tempo, estamos de fato vendo crianças. Tornar-se um adulto, isto é, entender os limites humanos, não é para qualquer um. Muita gente passa uma vida brincando de mocinho e bandido por simples incapacidade de se tornar um adulto calculador, responsável e com boa índole.
Todavia, até aí, o problema ainda não apresenta seu lado mais estúpido. As coisas começam realmente a ficar preocupantes, especialmente para o filósofo, quando a questão da posse de arma em sociedades como a nossa se apresenta antes de tudo pelo desejo de realmente combater o crime. O americano tem arma por conta da tradição, do hobby e, em menor medida, por segurança. O brasileiro revela um outro perfil. Quando as pesquisas são bem feitas, elas assustadoramente exibem que a segurança não é tão prioridade quanto aparece à primeira vista. O brasileiro realmente acredita que ele pode ser um agente de combate ao crime, que ele mata o bandido e pronto, está tudo resolvido, ou seja, que não haverá vingança de outros bandidos e que ele não sofrerá nada na própria justiça. Em outras palavras, a infantilidade do brasileiro que deseja uma arma é bem maior do que a que podemos sentir nas pesquisas mais superficiais.
Uma boa parte dos brasileiros que já sacou uma arma e acertou um bandido, terminada a façanha, logo percebe que a confusão em que se meteu com a justiça é uma dor de cabeça incrível, embora não seja nem metade da desgraça que logo baterá em sua porta, com o modo pelo qual a sociedade dos bons e dos maus reagirá ao fato.
O drama é que a quantidade de gente infantilizada desse modo, que imagina que um tiro pode retirá-la do mundo do perigo, que não percebe que um tiro é que a coloca definitivamente no inferno, principalmente se acertar o alvo, é muito grande. Há mais cabeças de bagre em nosso país que até então imaginávamos, quando nossas pesquisas eram desenvolvidas em forma de testes de múltipla escolha.
Quando ouvimos as pessoas, ficamos estarrecidos da incapacidade delas de perceber que vivem em sociedade, em tramas de leis e relações, e que um tiro não é um tiro como nos filmes. Um tiro sempre é no mínimo três tiros. Um sai pelo cano, dois pela culatra. Os do cano tiram uma vida de uma vez, os outros dois funcionam como uma longa e tenebrosa tortura capaz de destruir não só o atirador, mas sua família e tudo o mais ao seu redor.

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