quinta-feira, 25 de outubro de 2012

NEM EDSON PINTOR FOI CANDIDATO TANTAS VEZES!

Manoel Valdir Teixeira de Souza, 47, mais conhecido como Cabide, mede apenas 1,44 metro de altura, mas se revelou a maior surpresa das eleições municipais no Acre.

 



Vendedor ambulante de detergente que ele mesmo produz no quintal de uma modestíssima casa cuja parede faz divisa com o muro do cemitério São João Batista, em Rio Branco, Cabide emergiu das urnas como vereador eleito com 2117 votos, após participar de 17 disputas como candidato a vereador ou a deputado estadual.Considerado o candidato mais pobre da campanha, conseguiu imprimir, com a ajuda de amigos, apenas 6 mil  santinhos coloridos e em preto e branco. A maior parte do material de propaganda ele mesmo confeccionou usando carimbos para destacar o nome dele, do PTC e do prefeito Raimundo Angelim (PT) em pedaços de papel.Após passar parte das noites carimbando o seu material de propaganda, Cabide montava cedo na bicicleta que usa para fazer entrega de detergente. Percorria as ruas da cidade, especialmente pontos de ônibus, para fazer a entrega de santinhos e pedir apoio das pessoas para ser eleito vereador.Ao longo da vida foram muitas as tentativas fracassadas, mas pessoas de vários segmentos sociais, especialmente estudantes, dessa vez resolveram assumir a candidatura de Cabide como protesto contra o baixo nível que tem prevalecido na Câmara Municipal de Rio Branco. Ele nega que a eleição seja um protesto.- Protesto o povo faz contra algo que desagrada. A minha eleição é resultante do voto consciente da população – disse Cabide ao Blog da Amazônia nesta manhã, enquanto quebrava o jejum com café e pão na casa de um primo dele.Durante a campanha, foram criadas páginas de apoio ao candidato no Orkut, o que acabou evoluindo na semana passada para a realização de uma carreata com mais ou menos 40 carros e motos. Desfilaram pelas ruas da cidade para mostrar que Cabide estava na disputa para valer, conforme havia constatado pesquisa do Ibope.Cabide, que nasceu no seringal Riacho, em Brasiléia, na fronteira com a Bolívia, talvez seja o único candidato que não comprou nenhum dos votos em Rio Branco. Após a vitória, o vereador eleito passou a ser reverenciado pelo povo. Todos querem abraçá-lo e parabenizá-lo pela vitória.O sr. conseguiu dormir? Dormi pouco, mas o pouco que dormi foi um sono muito tranqüilo porque eu tinha consciência que desta vez iria ser eleito. Bendito o homem que confia no Senhor, diz as Sagradas Escrituras, onde, também, está escrito que, por mais mau que seja um pai, se um filho pede um peixe ou um pedaço de pão, o pai não dará uma pedra ou uma cobra. Fui muitas vezes humilhado por ser um candidato pobre, sem a menor estrutura para realizar uma campanha, mas jamais deixei de confiar em Deus.  Eu sabia que, se andasse na linha, Deus iria tocar o coração das pessoas para chegar onde estou hoje.Quem se candidata 17 vezes precisa ter muita fé? Com certeza. Não é qualquer um que tem essa consciência em nosso superior.As suas campanhas sempre foram muito precárias? Sempre. Eu nunca fui de ficar mendigando a ninguém a impressão de material, por exemplo. Eu mesmo comprei os carimbos para carimbar o meu nome e meu número num pedaço de papel. Nesta eleição, o carimbo ficou maior que o papel, mas deixei assim mesmo. Além disso, várias pessoas foram se sensibilizando com minha luta. Chegaram até a organizar uma carreata e a coisa foi crescendo.Como surgiu o apelido Cabide? Isso aconteceu numa das vezes que fui registrar minha candidatura. Meu nome completo é Manoel Valdir Teixeira de Souza. Eu tinha desde criança o apelido de Gabit, que diziam que era uma mistura de galo garnisé com outra coisa qualquer. Pois bem, então numa das vezes que fui fazer meu registro, tentei registrar o Gabit. Um funcionário da Justiça Eleitoral disse que esse nome não ia pegar. Sugeriu que fosse mudado para Cabide, pois era mais fácil de pronunciar e combinava com a minha altura de 1,44 metro. Então aceitei a sugestão dele e virei Cabide. O sr. vive de qual trabalho? Eu vivo da minha vidinha de vendedor ambulante de detergente. Eu mesmo fabrico um detergente e saio vendendo de casa em casa na minha bicicleta. Como não tenho muita condição de comprar todos os produtos químicos, uso alguns produtos básicos e com isso evito afetar a saúde das pessoas. O sr. pretende parar de produzir detergente e vendê-lo como ambulante? Não.  Faço tudo manualmente, mas meu sonho é ampliar o meu negócio, contratando mais pessoas e com isso gerar mais empregos. Nós não podemos ficar dependendo apenas do prefeito, do governador.  Até tomar posse ainda vou continuar como ambulante. Depois vou economizar o que ganharei como vereador para melhorar a minha produção de detergente. Todo mundo precisa de detergente. Quero ampliar o meu negócio e gerar emprego.Além disso, o que pretende fazer como vereador? Não posso negar que vou fazer assistencialismo. Queira ou não queira, a gente tem que fazer assistencialismo. Existe muita gente pobre que às vezes necessita apenas de uma pequena ajuda para superar suas dificuldades. Vou continuar visitando os enfermos nos hospitais como sempre fiz. Quem não tiver recursos nenhum, por exemplo, para comprar algum medicamento, podendo ajudar eu vou ajudar. Se o doente precisar de alguma viagem para tratamento em São Paulo, tendo condição, eu vou ajudar. Não vejo problema nenhum em fazer isso para ajudar as pessoas. Elas necessitam muito. Vou fazer o que estiver ao meu alcance com lealdade. O sr. sempre foi candidato de oposição à Frente Popular do Acre, que é liderada pelo PT, e administra a prefeitura de Rio Branco e o governo estadual. Agora foi eleito fazendo parte da Frente Popular. Nunca fui oposição à Frente Popular do Acre. Quem era oposição era o partido do qual eu fazia parte. Oposição é a dificuldade que a gente enfrenta na vida. Ninguém é oposição. Cada um está querendo alcançar um objetivo, uma situação melhor.O sr. é casado? Sou solteiro.Mas nunca casou? Eu tive uma mulher com quem convivi algum tempo. Temos um filho de 17 anos. Sou evangélico e não posso ficar me dividindo. Mas tem namorada? Não tenho, não.Mas agora, como vereador eleito de Rio Branco, o que não vai faltar é mulher querendo ficar com você. O que acha disso? A primeira coisa que a gente tem que atentar é para as palavras que estão nas Escrituras Sagradas.  Se aparecer uma mulher que queira respeitar cumprir e dar testemunho da palavra, tudo bem.Tem preferência por algum perfil de mulher? Para mim, a mulher tem que andar de acordo com as palavras das Escrituras. Se for alguém que obedece as Escrituras Sagradas, terá a minha preferência.O que o sr. considera como o problema mais grave de Rio Branco na atualidade? Na minha opinião, é a PEC 54, que está para ser votada no Congresso Nacional. Ela é uma ameaça a 11 mil servidores públicos que ingressaram no serviço público sem concurso. Essas pessoas podem ser demitidas a qualquer momento, assim como aconteceu comigo, que trabalhava na Eletroacre e fui demitido sem direito a nada. Enquanto não vê essa questão resolvida, não irei sossegar. No país, são 1, 1 milhão na mesma situação de irregularidade perante a lei.Mas essa questão não compete a um vereador. Certo? Eu sei disso, mas não vai me custar nada aproveitar a tribuna para defender esses servidores públicos. É um dever nosso, esteja onde estivermos, defender a todos eles.O povo deu alguma mensagem aos políticos nestas eleições? Acho que o povo está dizendo que um político não pode depender apenas do dinheiro.Quanto o sr, gastou na campanha? Não gastei nada. Recebi do meu partido apenas uma pequena cota de combustível, mas nem tenho carro. Usei apenas a minha bicicleta. Aliás, meu patrimônio se resume a uma bicicleta e um imóvel que declarei à Justiça Eleitoral, avaliado em R$ 30 mil. Agora eu pretendo ter uma casa própria para morar, para fazer reunião com meus amigos.A sua eleicão foi realmente um protesto da população contra o baixo nível que tem prevalecido na Câmara Muncipal? Protesto o povo faz contra algo que desagrada. A minha eleição é resultante do voto consciente da população. Os meus eleitores podem esperar de mim toda a lealdade na tarefa de legislar e de fiscalizar. Não vou decepcioná-los porque não tenho ambição por riqueza. Sou um homem simples, que já passou por todas as dificuldades que se possa imaginar. Não vai ser agora que o poder vai mexer negativamente com a minha cabeça. A mensagem que o povo está dando com a minha eleição é que os políticos precisam entender que ainda existem pessoas conscientes. As pessoas querem ser respeitadas, querem ver os políticos realmente preocupados com os seus problemas., visitando os bairros. É isso que venho fazendo. Então não tem nada de protesto.Qual o seu plano político? Bem, vou assumir o mandato de vereador para legislar e fiscalizar. Mas tenho sonho de me tornar deputado federal. Quem sabe, até algo maior, veremos.Qual o candidato ideal para suceder Binho Marques no governo do Acre? Para mim é Jorge Viana. Ele já mostrou que tem competência como ninguém para administrar e desenvolver o Acre. O senador Tião Viana, irmão do Jorge, quer se candidato a governador. Ele tem direito, mas a minha preferência pelo Jorge é porque ele já mostrou trabalho e é quem mais pode fortalecer a Frente Popular do Acre. Nunca votei no Jorge, mas quero poder votar nele por tudo que já fez pelo Acre.O sr. é da Assembléia de Deus, assim como a senadora Marina Silva. Ela o apoiou? Não.Os evangélicos de sua igreja preferiram apoiar outros candidatos, sendo que alguns até perderam o mandato. Nunca o convidaram para oferecer apoio? Não. Participo de uma igreja no bairro Montanhês e não gosto de misturar política com religião.