quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Presidenta Dilma Rousseff em encontro com a ativista ambiental indiana Vandana Shiva

A ativista ambiental e ecofeminista Vandana Shiva confessa estar surpresa com o que descobriu no Brasil sobre políticas públicas para combater a fome e a miséria. Segundo ela, o mundo precisa saber mais sobre como o País conseguiu superar esse desafio de forma tão espetacular. Ela está no Brasil para participar da V Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que foi aberta nesta terça-feira (3), pela presidenta Dilma Rousseff.
“O tipo de detalhe que eu ouvi depois que cheguei aqui, quando a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome fez uma apresentação, sobre a habilidade do País em superar a fome e a desnutrição. Essa mensagem precisa ser muito mais óbvia e eu serei uma pequenina embaixadora a espalhá-la”, disse entusiasmada em entrevista ao Blog do Planalto.
Vandana Shiva tem trabalhado em movimentos pela segurança alimentar na Ásia, África e América do Sul. É diretora da Research Foundation for Science Technology and Ecology de Nova Déli, na Índia. Na década de 1970, participou do chamado Movimento das Mulheres de Chipko, que adotou a tática de se amarrar às árvores para impedir sua derrubada e o despejo de lixo atômico na região. Uma das líderes do International Forum on Globalization, Shiva ganhou em 1993 o Right Livelihood Award, o Prêmio Nobel da Paz alternativo.
Shiva diz que é impressionante como o desafio de vencer a fome mobilizou a sociedade civil, os produtores rurais e os produtores familiares, o que deu qualidade ao conteúdo do programa. Ela chama a atenção para um segundo aspecto que considera poderoso: o fato de o programa brasileiro não ser fragmentado, como geralmente ocorre nos movimentos e mesmo na burocracia dos governos.
“O Brasil conseguiu envolver diferentes ministérios para trabalharem juntos no enfrentamento do desafio da fome e da desnutrição. E usar a atual crise para criar novos modelos de parceria com a sociedade”, de forma a trazer os recursos para essa causa, além dos recursos do governo. “É isso que os movimentos com os quais trabalho estão demandando em todo o mundo”.
A ativista ambiental indiana acha que o Brasil deveria liderar o questionamento ao arranjo global sobre direitos de propriedade intelectual nesta área, que já deveria ter sido revisado na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1999. “Afinal de contas, estamos no meio de uma mudança no poder político mundial. E, neste momento, os Brics precisam exercer o seu potencial mais alto”.
Adverte, no entanto, que esse potencial só tornará realidade se os países do grupo não apenas trabalharem mais próximos entre si, como também mais próximos aos seus povos, dentro de cada país, com o foco em temas reais que desafiam as pessoas, temas relativos à vida dos produtores rurais, relativos à injustiça, a ter o retorno da renda.
Ela acredita que a agroecologia é a única forma de empoderar as comunidades e que as mulheres devem ter uma posição destacada neste processo. “Afinal de contas, as mulheres produzem alimentos para as famílias e as crianças. As corporações produzem pelo lucro, elas não se importam se o alimento é nutritivo ou não, se é saboroso ou não. Se é seguro ou não. As mulheres se importam. Por isso, precisamos trazê-las de volta ao processo de criação da comida. E isso só poderá acontecer quando as mulheres tiverem mais poder – o que a agroecologia ajuda a fazer acontecer”.
Nesse aspecto, disse acreditar ser mais fácil conversar sobre alimentos com uma mulher presidenta, como acontece no Brasil O simples fato de ela estar vindo a uma conferência deste tipo é um indicativo disso. “Acho que a mulher que existe na presidenta está muito viva”, finalizou.

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