terça-feira, 28 de abril de 2015

Revolta na PM contra o Governador

Revolta nos quarteis da Polícia Militar, em Curitiba. De soldados rasos a oficiais, ninguém está aceitando a ordem do governador Beto Richa e do secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini. Eles querem porque querem que a PM  monte partir da tarde deste sábado (25) um cordão de isolamento com mais de mil soldados no Centro Cívico. Esta barreira deve ser mantida, ininterruptamente, 24 horas por dia, até a quinta-feira, 30.  Os policiais alegam que a PM não tem efetivo para isso. E caso o governador não recue da ordem, que consideram “estapafúrdia”, fazem um alerta público à população da Capital: “A cidade ficará entregue aos bandidos durante cinco dias”.
A ordem de Beto Richa para cercar a Assembleia Legislativa é uma medida desesperada de um governador impopular. É um gesto autoritário que causa revolta em todos os paranaenses. O cerco visa impedir que o povo, principalmente os funcionários públicos, possam acompanhar, no Centro Cívico, a votação do confisco do dinheiro que garante a aposentadoria dos servidores do Estado. A votação, em regime de urgência, está prevista para se realizar na sessão de quarta-feira, 29, que começa às 14h30. O governo quer, a todo custo, evitar a invasão do plenário do Legislativo, como ocorreu em fevereiro último. Richa pretende usar o dinheiro das aposentadorias para pagar as dívidas do governo, que ele mesmo fez.
Mas o custo do cerco à Assembleia é altíssimo. E pode ser ainda mais desgastante para Richa e seus aliados com a revolta da PM, que também tem interesse que o fundo de previdência não seja confiscado. Se a cidade ficar entregue aos bandidos, uma onda de crimes pode pôr tudo a perder, já que a impopularidade do governador irá às alturas e, deputado que tenha um mínimo de juízo, não irá avalizar esta operação, que só tem paralelo na ditadura militar.
Cidade entregue aos bandidos
A revolta na PM começa a ganhar voz. Um oficial já alertou: “Não temos estrutura para manter um cerco prolongado no Centro Cívico e o policiamento rotineiro na cidade ao mesmo tempo”. Isso significa que o soldado que estará no cerco é o mesmo que deixará de fazer o patrulhamento nas ruas, é o mesmo que deixará de combater a ação dos bandidos, é o mesmo que deixará de socorrer vítimas de acidentes, é o mesmo garante a segurança das nossas famílias nas unidades do Paraná-Seguro.
No último cerco à Assembleia, em fevereiro, policiais militares já tinham se mostrado revoltados. Alguns deram entrevistas denunciando a completa falta de estrutura e organização do cerco. Muitos policiais trabalharam mais de 24 horas seguidas sem descanso, ficaram sem refeições e sem água. E agora, com mais de cinco dias seguidos de tocaia, a PM vai ter efetivo para garantir escalas? Vai ter recursos para assegurar a alimentação e hidratação dos soldados que estarão no cerco?
Está claro que se o governador e seus assessores tivessem um pingo de responsabilidade, já deveriam ter desistido, há tempos, desta operação para salvar o caixa do Estado. O desgaste e os riscos de violência são enormes e duradouros, ainda mais com a PM dando sinais claros de revolta. Temos, agora, nova greve dos professores, que poderá durar meses, inviabilizando o ano letivo, causando sangria no que resta de prestígio a Richa e aos deputados aliados e provocando um drama social incalculável para as milhares de famílias que têm filhos nas escolas públicas.
Isso sem contar que usar a PM para fazer um jogo político é algo muito nefasto. Algo que ocorreu pela última vez em 25 de abril de 1984, quando o Congresso Nacional foi cercado por tropas do Exército. O cerco permitiu que os deputados da base de apoio à ditadura rejeitassem a Emenda Dante de Oliveira, que garantia a volta da das eleições diretas para presidente da República. O desgaste do último ditador, o general João Baptista Figueiredo, foi tanto,  que aquela demostração extemporânea de força  jogou a derradeira pá de cal no reinado dos militares.

Agora, em 2015, Beto Richa contraria frontalmente o pai, José Richa. Em 1984, o Paraná era governado por José Richa, um dos principais avalistas das diretas-já. Democrata de todas as horas, José Richa foi radicalmente contra o cerco do Congresso, medida que hoje o filho usa, a despeito da história do pai, para impor goela a baixo em todos os paranaenses um confisco tão odioso quanto foi a rejeição das diretas-já. Daí, não é de se admirar a revolta que ganha força nas ruas e que começa a chegar aos quartéis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário