sábado, 11 de maio de 2013

60% DE PMs SÃO PRESOS


Goianira viveu ontem uma situação insólita: 60% dos policiais militares que trabalham na cidade foram presos durante operação da Polícia Civil. O delegado Ralph de Melo Gonzaga e o escrivão Áureo Nunes Tapajós foram afastados e encaminhados para a corregedoria da corporação. Ao todo, foram detidas 23 pessoas na cidade: 17 militares da ativa, um da reserva (aposentado) e 5 cidadãos. Investigações apontam envolvimento do grupo em crimes que vão de homicídios a tráfico de drogas. Integrantes da Polícia Militar (PM) de Anápolis já foram enviados para substituir os que estão detidos pelo período de 30 dias.
Apesar das prisões, o prefeito Randel Miller de Assis Santos faz elogios ao ex-comandante do 2º Pelotão de Goianira, o tenente Sebastião Kenedi Cardoso, detido em Aparecida de Goiânia, e a outros policiais: “Kenedi foi um guerreiro. Ficou 7 anos no comando, e praticamente sem polícia. Ele que dava a cara nas batidas. Da minha parte, só tenho que agradecer. Acredito que nem todos esses policiais que foram presos são bandidos, que nem todos tenham culpa no cartório desta forma.”
Sindicância
O comandante da 23ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), major Sérgio Inácio de Araújo, afirma que cinco dos presos que trabalhavam em Goianira já foram alvos de sindicâncias, que terminaram sem punições. Eram denúncias de abuso de autoridade, que não foram comprovadas na investigação da corregedoria, diz.
A cidade tinha, até o mês passado, apenas uma viatura fazendo ronda 24 horas. Uma outra, com policiais pagos em regime de hora extra, trabalhava 8 horas por dia. “Estávamos com criminalidade alta no município porque só tínhamos uma viatura rodando 24 horas por dia”, afirma o prefeito. Há duas semanas, outros três carros passaram a atender o município em tempo integral, também em regime de hora extra. O município gasta R$ 22 mil e o Estado paga mais R$ 44 mil para garantir o aumento das unidades.
Com o aumento, espera-se que casos de furto e roubo diminuam. Mas a cidade enfrenta um problema muito comum à região metropolitana: o tráfico e o consumo de crack. Araújo afirma que a polícia conhece as bocas de fumo mas, sempre que aborda os usuários, só encontra pequenas quantidades de droga, insuficientes para classificar tráfico. “Precisa de investigação”, diz.

Batalhão de Anápolis vai ajudar na cidade

Com a baixa de 17 homens no Pelotão da Polícia Militar, entre eles o ex-comandante tenente Sebastião Kenedi Cardoso e o soldado Ramos, o coronel Sílvio Benedito Alves solicitou que o comando de Anápolis mandasse para a cidade 24 militares para reforço no policiamento.
“Não fico constrangido com a prisão desses militares. Fico decepcionado com a prisão de tantos militares. O militar tem de ser, antes de tudo, uma pessoa íntegra, que trabalha no combate à criminalidade e ao crime na defesa da população, mas não tememos cortar da própria carne em casos de desvio de conduta”, afirmou.
Além da investigação na Polícia Civil, os militares presos estão sujeitos a investigação na Corregedoria da PM, que instaurou sindicância para apurar as denúncias, e ao Conselho Disciplinar, que pode até expulsá-los.
O coronel Sílvio disse que um dos militares presos, o soldado Ramos, já foi expulso da corporação pelo próprio Conselho Disciplinar, depois de comprovação de envolvimento em roubo de carros. O militar conseguiu voltar para a corporação depois de decisão judicial, segundo o comandante-geral.
Além dos militares, foram presos em Goianira mais sete pessoas envolvidas com o tráfico de drogas e outros crimes. Essas pessoas faziam parte, segundo a investigação, da quadrilha formada pelos militares. “Os militares eram os chefes do tráfico na cidade”, apontou o delegado geral da Polícia Civil, João Carlos Gorski. A Polícia Civil não divulgou ainda em quantos assassinatos a quadrilha formada por militares está envolvida, mas que todos foram cometidos de forma isolada e não configuram como ação de um grupo de extermínio.
A ação era conjunta em crimes de tráfico, de adulteração e uso de veículos roubados e de casos de corrupção ativa. Segundo o comandante da PM, com exceção do tenente Kennedy, os demais presos na operação são sargentos, cabos e soldados da Polícia Militar.
Tensão
O comandante-geral da Polícia Militar demonstrou irritação ao conceder entrevista sobre a Operação Resgate na sede da Polícia Civil. “Vocês deveriam me entrevistar no meu gabinete”, reclamou para a imprensa.
Depois, ainda insatisfeito, fez com que o banner da Polícia Militar fosse colocado à frente do da Polícia Civil. A irritação era visível também durante a entrevista coletiva, com respostas incisivas. Ao final da última pergunta, saiu rapidamente da sala trocando farpas com alguns jornalistas.
Esta é a segunda operação em que um número tão alto de militares é presa. Em 2011, 19 militares, entre eles o sub-comandante-geral da corporação, foram presos pela Polícia Federal, sob a suspeita de integrarem um grupo de extermínio. Na época, o superintendente da PF era o atual secretário de Segurança Pública e Justiça de Goiás, delegado Joaquim Mesquita.

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