segunda-feira, 22 de abril de 2013

A HISTORIA DO PCC / PARTE DOIS


Megarebelião de 2001
Foi dentro da cadeia que ele surgiu. Foi em 1993, na Casa de Custódia de Taubaté, no interior de São Paulo. Lá, a maioria dos presos eram da própria cidade de Taubaté e de outras cidades vizinhas, também do interior. De paulistas, nascidos na Capital, eram apenas oito os detentos: Isaias Moreira do Nascimento (o Esquisito); Ademar dos Santos (o Dafé); Wander Eduardo (o Cara Gorda); Antonio Carlos dos Santos (o Bicho Feio); Mizael Aparecido da Silva (o Baianão); José Epifânio (o Zé Cachorro), César Augusto Roriz (o Cesinha) e José Marcio Felício (o Geléia). Por serem os únicos não “caipiras” eram chamados pelos outros detentos de “os da Capital”.

Bons de bola, os oito começaram a se destacar no presídio por causa dos jogos de futebol. No dia 31 de Agosto de 1993, eles marcaram uma partida contra outros companheiros. Já tinham planejado matar dois desafetos durante o jogo e foi o que aconteceu. Após as mortes, eles se reuniram e começaram a discutir o que mais poderiam fazer além de jogar bola e exterminar companheiros. Foi aí que tiveram a idéia de formar um “partido” (é assim que integrantes do PCC se referem a facção), um sindicato onde seriam os representantes dos detentos de todo o Estado de São Paulo. Inicialmente uma idéia até romântica, já que planejavam ser a “voz” dos presos na defesa de seus direitos como cumprimento das leis de execuções penais, que consiste em uma série de obrigações do Estado em relação ao preso que vão desde a disponibilidade de boas instalações carcerárias até acesso à educação e tratamento médico adequados. Como já eram conhecidos como os “da Capital”, decidiram que o “partido” se chamaria Primeiro Comando da Capital – PCC.

Ali mesmo, na cela de César Augusto Roriz, o “Cesinha”, escreverem a mão o Estatuto da Facção, que tem 16 itens, entre eles o de total fidelidade ao comando, sob a pena de morte para quem não obedecer.

Durante dez anos, os dois chefões do comando foram dois de seus fundadores: o Cesinha e o Geléia (José Márcio Felício). Como a maioria dos líderes principais do PCC, eles passaram a maior parte de suas vidas nas cadeias. Cesinha foi assassinato em 13 de agosto de 2006 e estava preso desde 1989, quando tinha 22 anos. Morreu aos 39 anos. Estava condenado a 136 anos e seis meses por assaltos, homicídios e formação de quadrilha.

José Márcio Felício, o Geléia ou "G", nasceu em 13 de Janeiro de 1961. Aos 18 anos - 1979 - foi preso por roubo e foi para a Casa de Detenção, onde ganhou a matrícula de número 52.163. Nunca mais saiu da cadeia. Já passou por 33 diferentes presídios e em 2007 continuava preso. Foi condenado a 59 anos e 15 dias de prisão por assalto à mão armada, homicídios e formação de quadrilha.

Em 2003 o poder mudou de mãos. Geléia e Cesinha foram expulsos da facção que foi assumida por Marco Willians Herbas Camacho, o “Marcola”. A vice-liderança ficou com Júlio César Guedes de Moraes, o “Julinho Carambola”.

Os dois chefes do PCC, em novembro de 2007, também estavam atrás das grades havia muitos anos. Julinho Carambola foi detido a 12 anos atrás. Marcos Willian Herbas Camanho, o Marcola, nasceu em 25 de novembro de 68 e sua condenação é de 39 anos, 3 meses e 20 dias por roubos e assaltos a bancos. Foi preso pela primeira vez em 1986, quando tinha 18 anos. Fugiu da cadeia em 97, foi preso novamente e fugiu outra vez em 98, sendo recapturado em 1999. Desde então, não saiu mais da cadeia. Dois oito fundadores, sete já morreram, todos assassinados dentro da cadeia. Só Geléia continuava vivo em novembro de 2007.

O PCC, depois de fundado, viveu na clandestinidade até 1997, quando, pela primeira vez, foi mostrada sua existência, em uma reportagem da TV Bandeirantes. O Estado e as autoridades não acreditaram e negaram a existência do PCC. Assim, livres de repressão, eles cresceram dentro das cadeias e, à medida que seus integrantes iam cumprindo suas penas, eram libertados e traziam, para além grades, as idéias e ideais da facção.

Em um relatório reservado do Ministério Público sobre a facção, os promotores escreveram:“O “Primeiro Comando da Capital” teve sua origem em 1993, formado por criminosos que inicialmente se denominavam “fundadores”, cujo escopo inicial era o domínio do sistema prisional, com a prática de extorsão contra detentos e familiares, promovendo ainda, a execução de presidiários, o tráfico ilícito de entorpecentes dentro e fora dos presídios e a prática de crimes correlatos, sempre visando dar a organização criminosa o domínio do sistema prisional, inicialmente apenas no âmbito interno, expandindo-se depois e atuando fora do sistema, de molde a atingir a sociedade como um todo... Fora dos presídios dividiram tarefas e passaram a exercer agressiva atuação criminosa, hoje voltada quase completamente ao tráfico ilícito de entorpecentes”.

Em 2001, eles mostraram a força promovendo uma megarebelião que paralisou 30 presídios. Foi o maior motim já realizado no mundo. A notícia ganhou destaque na mídia internacional e o PCC foi manchete nos Estados Unidos, Canadá, França, entre outros países.

E eles mesmo superariam seu recorde, promovendo em 2006 outra rebelião sincronizada. Simultaneamente se rebeleram em 74 presídios de São Paulo, cinco do Paraná e cinco em Mato Grosso do Sul. Quinhentos funcionários de presídios foram tomados como reféns.

Foi quando São Paulo caiu de joelhos perante o PCC. Durante quatro dias a cidade e seus habitantes foram acuados e assustados viram os “soldados” da facção saírem as ruas, como camicases dispostos a cumprir as ordens recebidas dos chefes. A ordem era enfrentar a polícia, o poder. E o fizeram usando fuzis, granadas e bombas. Os ataques aconteceram na Capital e em dezenas de cidades do interior e na Baixada Santista.

Ônibus foram queimados, bombas foram lançadas contra órgãos públicos (prédios das secretarias da Justiça e Administração Penitenciária, Ministério Público, fóruns, delegacias). Agências bancárias foram incendiados e depredadas, viaturas policiais foram crivadas a balas. Agentes penitenciários e policiais foram encurralados e assassinados. Alguns voltando do trabalho, outros em serviço e parte deles atacados em suas próprias casas. Foi a mais sangrenta batalha entre o crime organizado e a polícia. 

Aulas foram suspensas, o comércio fechou, a indústria liberou seus funcionários mais cedo. Com Medo, os paulistanos evitaram sair de suas casas. Às cinco horas da tarde do dia 16 de maio, uma segunda feira,São Paulo parecia uma cidade fantasma: sem pessoas e sem veículos circulando. A noite foi igual: bares e restaurantes vazios ou fechados. Para os paulistanos, a ficha caiu: o PCC passou a ser um perigo real e próximo. Não era mais apenas uma facção escondida atrás das grades.

Em julho e agosto, também de 2006, voltaram a carga promovendo novos ataques, nos mesmos moldes e mais uma vez parando a maior cidade do país.


São Paulo refém
Delegacia atacada
Agência Estado
Delegacia atacada pelo PCC

Saldo dos ataques do PCC em São Paulo

Maio de 2006 - foram 100 horas de terror
  • 373 ataques na capital, interior e Baixada Santista (Litoral de São Paulo)
  • 82 ônibus queimados
  • 17 agências bancárias queimadas e depredadas
  • 48 mortos pelo PCC (policiais civis, militares, carcereiros e três civis que acompanhavam os policiais na hora dos ataques)
  • 50 feridos
  • 304 bandidos mortos pela polícia

Julho e agosto de 2006
  • 826 ataques na capital, interior e Baixada Santista
  • 9 policiais foram assassinados pelo PCC
  • 102 integrantes do PCC mortos pela polícia
  • 187 suspeitos presos

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