Levantamento da Polícia Federal, divulgado quarta-feira na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, revela um estrondoso crescimento a segurança privada do país. O exército de 450 mil vigilantes autorizados a trabalhar e sob o controle do governo é 45% superior a todo o efetivo da Polícia Militar nos 27 estados, onde as corporações, somadas, alcançam 310 mil policiais. Maior também que as Forças Forças Armadas, esse efetivo está distribuído por cerca de duas mil empresas que prestam segurança patrimonial nas cidades e nas áreas rurais e controla cerca de 180 mil armadas autorizadas pela Polícia Federal.
– É muita gente. Por isso, a necessidade de controle – disse quarta-feira o delegado Guilherme Maddarena, da Coordenadoria Geral de Segurança Privada da Polícia Federal.
Mesmo se tratando de um segmento sob controle permanente, os vigilantes cadastrados e autorizados a trabalhar são um fator de alto risco e frequentemente estão envolvidos em roubos e furtos.
– Em crimes contra o patrimônio pode procurar que sempre há um vigilante envolvido – disse o delegado.
O presidente da comissão, deputado Luiz Couto (PT-PB), que presidiu a CPI da pistolagem, acha que são modestos os números apresentados pela polícia.
– Para cada empresa legalizada existem pelo menos duas clandestinas – afirmou o deputado.
Segundo ele, se computar também os segmentos envolvidos com o crime, esses grupos se multiplicam e o número de seguranças extrapola a casa dos milhões. Embora não exista estatística confiável sobre o setor, os números apresentados pelo delegado durante recente a Operação Varredura – destinada a tirar de circulação as empresas e vigilantes clandestinos – sugerem que, além de se encontrar em franca expansão, o setor virou um monstro. Em Londrina, nas 20 empresas vistoriadas, os policiais encontraram apenas duas devidamente registradas. Em Brasília, onde estão concentradas todas as forças de segurança e a fiscalização é mais eficientes, num mesmo universo, haviam oito empresas ilegais. De 2008 até agora, a Polícia Federal autorizou 45 mil novos profissionais a trabalhar em todo o país, uma média dos últimos cinco anos. Os registros apontam que eles estão distribuídos por 33 mil agências bancárias e 6 mil carros de transporte de valores. Se 450 mil estão empregados atualmente, o número de vigilantes aptos a entrar no mercado de trabalho – treinados com um mínimo de 160 horas/aula para espaço de um banco ou 220 horas em carros-forte – é bem maior: 1,6 milhão de pessoas, cada uma delas autorizada a portar uma arma de fogo.
A Polícia Federal tem fechado dezenas de empresas de segurança privada clandestinas ou – o que é comum – que extrapolam os ambientes internos do espaço privado (a área física de um banco ou uma fazenda) para invadir a área sob controle da segurança pública.
– Elas viram um embrião da criminalidade – diz Maddarena.
O pesquisador da ONG Justiça Global, Rafael Mendonça Dias afirmou que as quadrilhas que atuam no Rio em forma de milícias controlam atualmente 172 comunidades e estão se deslocando das zonas Oeste e Norte (Campo Grande e Jacarepaguá) para áreas urbanas da Baixada Fluminense e Sepetiba numa velocidade impressionante e completamente fora dos controles públicos.
– Não se pode dizer que as milícias estão fora do controle. No Rio elas já representam um modelo de segurança adotado pelo estado – acusa o ativista.
Segundo ele, esse grupos atuam controlando território, coagindo a população, obtendo lucros – de atividades que vão da contravenção à venda de gás ou serviço de TV à Cabo – mostrando um falso discurso de defesa da ordem pública e são formados, basicamente, por agentes públicos, com policiais civis e militares ou bombeiros. De vereadores a representantes no Congresso, elegeram 46 políticos nas últimas eleições. Nas regiões em que as milícias se consolidaram, segundo Mendonça, é perceptível o aumento da taxa de homicídios e desaparecimentos. O ativista disse que o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), responsável pela CPI das Milícias na Assembléia do Rio, está seriamente ameaçado de morte. Ele sugeriu que as forças de segurança enfrentem o poder desses grupos derrubando suas fontes de lucro, os currais eleitorais e retirando as armas dos bombeiros.
– Não há razão para bombeiro portar arma – diz.
O delegado Maddarena afirma que a PF trata as milícias como quadrilha.
Vasconcelo Quadros , Jornal do Brasil