
– É muita gente. Por isso, a necessidade de controle – disse quarta-feira o delegado Guilherme Maddarena, da Coordenadoria Geral de Segurança Privada da Polícia Federal.
Mesmo se tratando de um segmento sob controle permanente, os vigilantes cadastrados e autorizados a trabalhar são um fator de alto risco e frequentemente estão envolvidos em roubos e furtos.
– Em crimes contra o patrimônio pode procurar que sempre há um vigilante envolvido – disse o delegado.
O presidente da comissão, deputado Luiz Couto (PT-PB), que presidiu a CPI da pistolagem, acha que são modestos os números apresentados pela polícia.
– Para cada empresa legalizada existem pelo menos duas clandestinas – afirmou o deputado.
Segundo ele, se computar também os segmentos envolvidos com o crime, esses grupos se multiplicam e o número de seguranças extrapola a casa dos milhões. Embora não exista estatística confiável sobre o setor, os números apresentados pelo delegado durante recente a Operação Varredura – destinada a tirar de circulação as empresas e vigilantes clandestinos – sugerem que, além de se encontrar em franca expansão, o setor virou um monstro. Em Londrina, nas 20 empresas vistoriadas, os policiais encontraram apenas duas devidamente registradas. Em Brasília, onde estão concentradas todas as forças de segurança e a fiscalização é mais eficientes, num mesmo universo, haviam oito empresas ilegais. De 2008 até agora, a Polícia Federal autorizou 45 mil novos profissionais a trabalhar em todo o país, uma média dos últimos cinco anos. Os registros apontam que eles estão distribuídos por 33 mil agências bancárias e 6 mil carros de transporte de valores. Se 450 mil estão empregados atualmente, o número de vigilantes aptos a entrar no mercado de trabalho – treinados com um mínimo de 160 horas/aula para espaço de um banco ou 220 horas em carros-forte – é bem maior: 1,6 milhão de pessoas, cada uma delas autorizada a portar uma arma de fogo.
A Polícia Federal tem fechado dezenas de empresas de segurança privada clandestinas ou – o que é comum – que extrapolam os ambientes internos do espaço privado (a área física de um banco ou uma fazenda) para invadir a área sob controle da segurança pública.
– Elas viram um embrião da criminalidade – diz Maddarena.
O pesquisador da ONG Justiça Global, Rafael Mendonça Dias afirmou que as quadrilhas que atuam no Rio em forma de milícias controlam atualmente 172 comunidades e estão se deslocando das zonas Oeste e Norte (Campo Grande e Jacarepaguá) para áreas urbanas da Baixada Fluminense e Sepetiba numa velocidade impressionante e completamente fora dos controles públicos.
– Não se pode dizer que as milícias estão fora do controle. No Rio elas já representam um modelo de segurança adotado pelo estado – acusa o ativista.
Segundo ele, esse grupos atuam controlando território, coagindo a população, obtendo lucros – de atividades que vão da contravenção à venda de gás ou serviço de TV à Cabo – mostrando um falso discurso de defesa da ordem pública e são formados, basicamente, por agentes públicos, com policiais civis e militares ou bombeiros. De vereadores a representantes no Congresso, elegeram 46 políticos nas últimas eleições. Nas regiões em que as milícias se consolidaram, segundo Mendonça, é perceptível o aumento da taxa de homicídios e desaparecimentos. O ativista disse que o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), responsável pela CPI das Milícias na Assembléia do Rio, está seriamente ameaçado de morte. Ele sugeriu que as forças de segurança enfrentem o poder desses grupos derrubando suas fontes de lucro, os currais eleitorais e retirando as armas dos bombeiros.
– Não há razão para bombeiro portar arma – diz.
O delegado Maddarena afirma que a PF trata as milícias como quadrilha.
Vasconcelo Quadros , Jornal do Brasil
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