População de Goiás quer mudança
l O empresário e ex-prefeito de Senador Canedo diz que, como observador no campo oposicionista da política de Goiás, vê a população de Goiás decepcionada
DIÁRIO DA MANHÃ
HÉLMITON PRATEADO
Ex-prefeito de Senador Canedo e candidato ao governo estadual em 2010, o empresário Vanderlan Cardoso (sem partido) está decidido: vai concorrer novamente ao Palácio das Esmeraldas.
De forma incisiva, o empresário deixa claro que, desta vez, pretende concorrer pela oposição, uma nova frente, que poderá reunir o DEM de Ronaldo Caiado, PSC, PDT, PRB e outras legendas. “Estamos mobilizando em favor de uma nova opção, porque a população de Goiás quer mudança.”
Ele revela que o cenário político do Estado mostra que, em 2014, além da possível candidatura do governador Marconi Perillo (PSDB) à reeleição(ou outro nome dos tucanos) e da aliança PMDB/PT, a nova frente que está sendo construída, “seguramente”, terá candidato a governador.
O ex-prefeito diz que o escândalo Cachoeira, quando auxiliares do governo estadual tiveram seus nomes envolvidos, desgasta a imagem da administração tucana.
“E o tempo é curto para se recuperar a imagem até as eleições de 2014”.
Após deixar o PR e o PMDB, Vanderlan Cardoso deve definir, no primeiro semestre de 2013, sua nova opção partidária. “Tenho afinidade com o PSC, mas estamos conversando com outras legendas. Vamos tomar uma decisão madura, acertada e prosseguir com a mobilização política pelo Estado inteiro.”
Ao projeto de um novo eixo para a política do Estado, Vanderlan Cardoso diz que o governo do PSDB não vem cumprindo os compromissos firmados na campanha eleitoral de Goiás. “É só observar o que se faz na saúde, na segurança pública, no tratamento que se dá aos servidores públicos, para se constatar a grande frustração da comunidade.”
O empresário faz críticas diretas ao modelo adotado na saúde, através de contratos com as Organizações Sociais (OS’s), reclama das rodovias não recuperadas e aponta que a política de segurança pública não reduz a criminalidade no Estado. “Não se veem ações que melhorem esses setores vitais da administração pública.”
O ex-prefeito aponta outro equívoco no foco administrativo do governo tucano. “O Estado prioriza o financiamento com capital nacional. Isso é um erro, porque, lá na frente, a sociedade goiana vai pagar caro. O correto é se construir obras com 70% de recursos financeiros do Tesouro estadual e 30% dos financiamentos externos.”
Qual é a principal bandeira da “nova frente” da política de Goiás?, quis saber o repórter. “Uma gestão planejada, bem definida, criativa. Nenhuma administração, pública ou privada, próspera tem gestão de qualidade.”
Vanderlan reconhece que a experiência que acumula na iniciativa privada e na atividade pública, tendo administrado a Prefeitura de Senador Canedo, serve de subsídio para uma futura gestão no governo de Goiás. “Na vida pública é preciso saber aplicar bem os recursos do povo, ter coerência e agir com criatividade e planejamento.”
Diário da Manhã – Qual a avaliação que o senhor faz da administração do Estado de Goiás hoje?
Vanderlan Cardoso – Se alguém olhar o Estado por alguns ângulos, vai notar que muitas áreas continuam patinando. Um dos gargalos, e que vem piorando com a chegada das chuvas, é a questão da energia elétrica. Isso é fruto de más administrações, da forma que foi gerido ao longo dos últimos anos. Eu, como empresário industrial, estou sentindo na pele hoje a questão energética. Se for olhar a questão da segurança pública, aumentou muito o índice de violência, não só na região metropolitana da Capital, mas em todo o Estado de Goiás. Na área da saúde, o que foi prometido durante a campanha eleitoral de 2010 até agora não vimos ações efetivas, a não ser a transferência da gestão para as organizações sociais. Até agora não apareceu o resultado que foi propagado. Temos o caso dos servidores públicos, onde o que foi prometido nada foi cumprido. O que está ocorrendo, ao contrário, é aumento de contribuições e alguns direitos que foram retirados dos próprios servidores estaduais.
DM – Como o senhor vê o aumento da contribuição previdenciária de 11% para 13,25% para ativos, inativos e pensionistas?
– Foi um péssimo presente de Natal do governo para os servidores públicos. Não quero questionar a necessidade de se promover esse aumento. Era preciso agir de forma mais clara os estudos para se repassar aos servidores. Até mesmo para a opinião pública avaliar a necessidade da decisão desse aumento da contribuição previdenciária dos servidores. O que se vê é o governo conceder um benefício de um lado e depois retirar o mesmo benefício de outro lado.
DM – Politicamente, esses gestos podem ter um efeito devastador para o governo?
– As últimas decisões tomadas têm proporcionado muitos desgastes para o governo do Estado. Veja, por exemplo, o 14º e 15º salários para os deputados estaduais, pois a sociedade nem contava mais com isso, já era página virada. Voltou com força total. E o governo teve que recuar. Além de outros aumentos que ocorreram, a sociedade não aceita mais. São tantos privilégios que são concedidos e o trabalhador não está vendo chegar para ele.
DM – O senhor acha que o ambiente político hoje no Estado é benéfico para o papel que a oposição vai desempenhar em 2014, em busca do afastamento do PSDB do poder através das eleições?
– As ações que o governo de Goiás está tomando são impopulares e vêm em sentido contrário àquilo que foi falado, prometido e propalado na campanha de 2010. Já se percebe uma frustração muito grande por parte da população. O não cumprimento das promessas, por parte do governo, beneficia a oposição, sem dúvida. Embora a oposição de hoje não seja aquela desejada pela população, o que a gente sente é que o maior opositor do governo do PSDB é o próprio PSDB. A administração do PSDB é o opositor do PSDB, com as medidas que estão sendo tomadas e da forma que estão sendo feitas. Medidas impopulares, em certos momentos, precisam ser tomadas pelas administrações, mas dependem da ocasião e das circunstâncias. É preciso ter coerência e não esquecer o que foi prometido nas campanhas eleitorais.
DM – Marquês do Paraná dizia “nada mais conservador do que um liberal no poder”. Ou seja, a pregação da campanha é uma e o exercício do poder é outro completamente diferente. O senhor acha que o governo não está cumprindo o que pregou ao eleitorado goiano?
– É o que a gente está vendo aí. É só pegar o que foi prometido na campanha para o servidor público e agora não está sendo cumprido. Isso pesa bastante. São 160 mil servidores que estão sendo prejudicados. Veja, por exemplo, a questão das estradas: o governo propaga que está recuperando todas as rodovias. Não estamos vendo isso. Se vê algumas rodovias que estão sendo recuperadas e outras intransitáveis. As nossas rodovias estão realmente em estado calamitoso. Já passaram dois anos e o governo não consegue resolver os gargalos da saúde.
DM – A Justiça proibiu o Estado de realizar novos contratos com as organizações sociais, as OS. Isso é um sinal de que estavam faltando transparência e eficiência na gestão dessas unidades de saúde?
– O que tem contribuído muito são os escândalos com as organizações sociais por este Brasil afora. Veja o último que envolveu cinco Estados nas organizações sociais em área da saúde. Não está havendo a transparência como foi propalada. Esses escândalos têm despertado a opinião pública nacional. Não sou daqueles que só criticam, só atiram pedras. Será que se se aplicasse esses recursos que estão indo para as OS’s nas gestões próprias das unidades de saúde pública, nos profissionais que atuam na área, não se obteriam melhores resultados? Eu visitei o Hugo antes, durante e depois da campanha e percebi que a situação dessas unidades estava melhorando muito. É só dar melhores condições de trabalho para os profissionais da saúde, melhores salários aos servidores da área, os bons resultados aparecem. Será que se passasse para as unidades um pouco desses recursos que estão sendo transferidos para as OS’s não teríamos uma saúde pública melhor?
DM – O senhor pretende disputar, novamente, o governo de Goiás?
– Sim. Estou trabalhando para isso. Amadurecemos muito, depois de participar de um pleito difícil em 2010. Aprendemos muito. Temos agora um tempo maior para fazermos planejamento, visitas ao interior do Estado, oportunidade que não tivemos em 2010. Estamos animados com o projeto de 2010. Dos candidatos que têm se apresentado aí, talvez eu e o Ronaldo Caiado é que temos posições claras, anunciamos nossas intenções de disputar e não ficamos dependendo desse ou daquele partido. Não ficamos dependentes de posições de outros partidos, ou seja, se seremos candidatos só se o PMDB e o PT vierem juntos, se o outro vier junto, se o PSDB vier junto, não. Estamos decididos a disputar a sucessão goiana de 2014 e vamos buscar o maior número possível de partidos para estar conosco.
DM – No cenário político, existe o PSDB de um lado e o PMDB e o PT de outro, provavelmente com candidaturas próprias ao Palácio das Esmeraldas. O senhor está tentando construir o chamado “novo eixo”, uma terceira via em Goiás?
– Não sei como se chama... O que tenho dito é que estamos tentando construir um projeto para Goiás. Como ele será chamado, se terceira via, segunda via, novo eixo, nova opção, não sei... O que queremos é ser uma nova opção mesmo para Goiás. Ficou claro na campanha de 2010 e agora com o lançamento de Simeyzon Silveira à Prefeitura de Goiânia aos 48 minutos do segundo tempo que o povo quer mudanças. É só percorrer o Estado e perceber que isso está claro.
DM – Essa frente que o senhor lança, juntamente com o deputado federal Ronaldo Caiado, do DEM, está consolidada?
– Trabalha em favor dessa nova opção não somente eu e o Ronaldo Caiado, mas, também, o PRP do ex-secretário da Fazenda Jorcelino Braga, do ex-governador Alcides Rodrigues, pessoa que estamos conversando, do PDT da deputada federal Flávia Morais, do PRB e outros partidos.
DM – O senhor e o deputado Ronaldo Caiado, especificamente, são os postos avançados dessa nova frente política do Estado?
– Todos são importantes nesta frente política...
DM – O desenho político hoje é o de que o Democratas se afasta da base liderada pelo PSDB?
– Como o PSDB, ocupando o poder no Estado, é natural que os tucanos tenham candidato à sucessão em 2014, com o governador Marconi Perillo ou outro nome. Como o deputado Ronaldo Caiado tem a pretensão de caminhar conosco, mais à frente é que esse cenário vai se definir melhor, ou seja, se o DEM vai sair da base governista. O DEM tem o vice-governador e, portanto, nesses próximos meses muita coisa vai se definir no quadro político do Estado. Ronaldo Caiado, nas conversas que tem tido conosco, tem sido muito firme em relação a 2014, colocando seu nome para a disputa tanto a governador quanto a senador.
DM – O diferencial da campanha de Marconi Perillo em 2010 foi a presença do Democratas. Sem o DEM, dificilmente o tucano teria emplacado uma candidatura competitiva. Hoje é possível prever que o Democratas terá caminho diferenciado do PSDB?
– O deputado Ronaldo Caiado, em suas entrevistas, tem deixado bem claro isso. Um partido para crescer tem que se submeter a desafios, disputar eleições para os cargos majoritários. O Ronaldo está também pensando no crescimento do partido. Ele tem dito que, depois de exercer sete mandatos como deputado federal, quer alçar novos voos.
DM – O senhor pretende procurar o PSB de Júnior Friboi?
– Tenho conversado com o empresário Júnior Friboi. Tive uma longa reunião com ele. Vejo o Júnior Friboi também realizando um trabalho em favor do crescimento do PSB, ele tem andado pelo Estado afora. Friboi tem um vínculo muito estreito com o PT, com o próprio PMDB. A gente observa uma aproximação maior de deputados federais e estaduais e prefeitos com Júnior Friboi. Eu, particularmente, e disse isso a ele, que, sendo candidato a governador pelo PSB, dificilmente teria o apoio do PT e do PMDB. O mesmo pode se dizer em relação a mim, pois acho difícil o PT e o PMDB apoiarem uma possível candidatura minha por um dos partidos que tenho cogitado.
DM – O senhor teve uma passagem de um ano pelo PMDB de Iris Rezende.
Os ressentimentos ainda persistem?
– Não tenho ressentimentos. Acho que, para mim, foi uma experiência, aprendi muito, tive um espaço, percorri o Estado todo. Visitei mais de 150 municípios, conhecendo as lideranças políticas, fiz muitos amigos. Não guardo ressentimentos. Na política, em vim para fazer amigos. Quem sabe a gente vai estar junto com o PMDB e o PT em futuro próximo, quem sabe no segundo turno das eleições de 2014.
DM – Desde que saiu do PMDB, o senhor está sem partido. Qual vai ser a nova opção partidária?
– Estamos avaliando os convites de vários partidos, entre eles o PSC, PDT, PRB e o DEM, além de outras legendas que estamos mantendo em sigilo.
DM – O senhor foi candidato a governador com apoio da máquina administrativa, com respaldo do então governador Alcides Rodrigues. Agora, a caminhada de 2014, na planície, é mais difícil, mais solitária, já que está na oposição. Esse novo desafio não o intimida?
– Eu tenho uma particularidade e não sei se é virtude ou não, sei que quanto maior for o desafio, melhor, fico mais entusiasmado. Se fosse pensar em dificuldades, não teria saído candidato em 2010. Tínhamos dois gigantes da política de Goiás, Iris Rezende e Marconi Perillo e, num determinado momento da campanha, quando a nossa candidatura ia muito bem, o ex-presidente Lula entrou na campanha do PMDB, com presença ostensiva no horário eleitoral e nas pílulas de televisão. Enfrentamos não dois, mas três gigantes. Hora nenhuma esse ambiente político me desanimava, ao contrário, me entusiasmava ainda mais. Quanto maior é o desafio da vida, maior é a minha motivação.
DM – Qual será a sua bandeira política para 2014?
– Sempre bato da tecla de se ter gestão de qualidade, eficiente. Com boa gestão, você resolve todos os problemas. Se resolve todos os problemas da segurança pública, da educação, da saúde. Com gestão, se consegue aplicar melhor os recursos, não desperdiçar, levar a administração a quem realmente precisa. Só se resolve os problemas de um país, de um Estado ou de um município com gestão. Não há outra saída. Até para se ter apoio político é preciso ter uma boa gestão. Repito: para se ter sucesso numa administração, é preciso ter uma boa gestão, com planejamento.
DM – O senhor então traz a experiência de ter administrado a cidade de Senador Canedo...
– Tive essa oportunidade e facilitou para mim o conhecimento que a gente trouxe da iniciativa privada. Você tem que planejar, porque não pode dar errado. E se der errado, você paga um preço muito alto. Então, levamos essa experiência para o setor público. Se na atividade privada você tem que ter um bom planejamento para executar os projetos, no poder público você tem que ser bem melhor, pois há burocracia, entraves, falta de recursos. Por isso, é preciso planejamento na gestão para se alcançar os objetivos.
DM – Então, essas são as ideias que vai defender na campanha de 2014?
– A população goiana já tomou conhecimento do nosso perfil político, pois, mesmo sendo hoje oposição ao governo do Estado, não somos de sair por aí atirando, ou seja, torcendo para quanto pior, melhor. Eu tenho dito que qualquer problema que está sendo implantado hoje e que nós discordamos, no caso, a participação das OS’s na saúde, a política de segurança pública, os problemas energéticos, tratarei todos os temas com muita franqueza, cobrando do governo novos rumos. Se amanhã essas questões vierem a funcionar de acordo com os interesses da comunidade, serei o primeiro a estar aplaudindo. Acho o tempo curto para o governo estadual recuperar e honrar todos os compromissos que assumiu com a população na campanha passada. Outro ponto que quero deixar bem claro: uma administração, seja federal, estadual ou municipal, que vier a fazer investimentos somente com recursos financiados, uma hora estoura. E é o que está acontecendo no Estado. Vi uma entrevista do secretário da Fazenda em que dizia que este ano o Estado vai ter déficit financeiro. Mas os investimentos que estão sendo programados pelo governo estadual serão sustentados por financiamentos, dinheiro de fora. Eu defendo que o Estado faça parte de seus investimentos com recursos próprios.
DM – Com certeza outras gestões é que irão arcar com os financiamentos que estão sendo feitos pelo atual governo...
– Não serão as outras administrações que irão arcar todas as dívidas, mas o povo goiano. O que não concordo é que se faça obras apenas com financiamentos de fora. O dia em que se conseguir o equilíbrio de investimentos externos com arrecadação própria, algo como 70% de obras com recursos do Tesouro estadual e 30% de investimentos de fora, aí poderemos dizer que temos um Estado gigante, que cresce e faz o dever de casa.
DM – O senhor acha que o governo de Goiás vai conseguir desvencilhar sua imagem do escândalo Carlinhos Cachoeira?
– Acho difícil, porque houve envolvimento de muitos auxiliares e funcionários do governo do Estado, inclusive secretários, gente do primeiro escalão. Então, teve esse envolvimento e, por isso, acho difícil o governo desvincular sua imagem do escândalo que houve aí. E, além do mais, o prazo é muito pequeno em relação às eleições de 2014. E para Goiás, isso tem sido muito ruim, pois tem prejudicado os investimentos de empresários de outros lugares.
DM – Não há como o governo negar que havia ingerência de Carlos Cachoeira na administração?
– Isso é o que ficou patente. Houve o caso do Detran, de gente influente do governo com o escândalo Carlos Cachoeira.
FONTE DIARIO DA MANHÃ