quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

KAJURU ATACA MARCONI PERILO


  Jorge Kajuru é afeito a polêmicas de toda a sorte. Em sua passagem por Goiás, o radialista – ex-proprietário da Rádio K – ficou marcado por sua relação de oposição, beirando o ódio mútuo e com direito a ser alvo de perseguições do governador Marconi Perillo (PSDB), então em eu primeiro mandato.
Hoje, distante do cenário goiano da comunicação, o jornalista fez um anúncio bombástico no Programa do Ratinho, do SBT: quer ser candidato ao Governo de Goiás nas eleições de 2014 (assista no vídeo abaixo). “O povo de Goiás não merece ter esta quadrilha comandada pelo coronel, político e governador daquele Estado”, disparou Kajuru, que atribui a Perillo uma drama pessoal. “Foi ele quem destruiu a minha vida, da minha família, cassou a minha rádio”, disse, referindo-se ao processo de suspensão e posterior fechamento da Rádio K, que passou por um intenso processo de perseguição em decorrência das intensas críticas que Kajuru fazia ao governador e à sua gestão.
“Não quero revanchismo. Quero que ele siga a vida dele e eu, a minha, mas quero agora entrar na vida deles para provar quem é mais honesto em todos sentidos. Quem tem o que na vida antes de entrar e depois de entrar na política. Quero passar as vidas a limpo”, promete, referindo-se ao passado e à vida que levaria Marconi Perillo depois de suas três passagens pelo Governo de Goiás.
Kajuru atribui sua decisão à “gratidão que tem ao povo de Goiás”. “O povo de lá não merece a vergonha que está passando. Quem viveu em Goiás por 17 anos, como eu, sabe que o povo não merece isso”, observa.  
Propostas
O radialista adianta qual poderia ser uma das primeiras ‘medidas’ como governador: o monitoramento 24 horas de todas as ações dos gestores públicos. “Vou por uma câmera dentro do gabinete do governador e em todos os gabinetes dos secretários para que através da internet todo cidadão possa ver e ouvir o que é feito. Isto é para evitar maracutaias como a que estamos vendo aí”, detona Kajuru, evidenciando os elos entre o poder executivo goiano e os desdobramentos da Operacao Monte Carlo que liga diretamente o grupo de Carlos Cachoeira às ações governamentais e mostra as relações íntimas de Marconi Perillo com Cachoeira.
Apoio
O apresentador Ratinho Massa se prontificou a ser um dos cabos eleitorais de Kajuru em 2014. “Farei campanha para você lá em Goiás, se a legislação permitir”, anunciou. O jornalista destinou seu e-mail para receber sugestões sobre seu novo projeto:

Caldas Novas e o Jornalista Mentiroso


Michael Finkel mentiu. Sabemos disso antes de chegarmos às primeiras linhas de A história verdadeira pois o fato é apresentado por Sérgio Dávila na orelha da obra. Depois de passar uma semana investigando uma história furada sobre escravidão na África a mando do New York Times Magazine em 2001, Finkel voltou para os Estados Unidos com uma pauta que considerava perfeita. Seu texto iria desmascarar uma série de falácias sobre escravidão infantil que circulavam em outros veículos.
Seu problema começa quando chega à redação com o texto na cabeça e recebe a ordem de reestruturar a reportagem focando-se em um único personagem. Sem muita escolha, ele compila características de diversos entrevistados em um só e publica sua história. Para quem não sabe, isso é mentir – um pecado imperdoável na prática jornalística.
Finkel, desolado e enfrentando o desemprego ocasionado por sua ação, acabou encontrando redenção em um crime muito pior que o seu. Prestes a ser difamado publicamente por sua mentira duas semanas depois da publicação de seu texto sobre escravidão, o jornalista recebe um telefonema. Era alguém informando que um homem acusado de assassinar a família havia sido preso no México atendendo pelo nome de Michael Finkel – repórter do New York Times Magazine.
A armadilha em que Finkel caiu
Essa premissa altamente instigante é o que movimenta o livro-reportagem A história verdadeira, de autoria do próprio Finkel. A partir do momento em que recebe o telefonema, o jornalista decide investigar o crime e começa uma amizade com o acusado, cujo nome verdadeiro é Christian Longo. Como sabemos pouco do caso – mas com ciência de que se trata de um fato verídico – nos envolvemos rapidamente com a narrativa do jornalista. Focando em sua própria trajetória de jornalista investigativo, Finkel intercala sua história com a dos erros sucessivos praticados por Longo criando uma narrativa poderosa, impactante e – muitas vezes – estranha.
Como parte de um enorme acaso (que Gay Talese costuma chamar de "serendipitar"), Longo rapidamente se mostra um personagem cujas principais características estão no fato de ser cativante e ardiloso. A mentira do jornalista acaba refletindo nas mentiras contadas pelo suposto assassino. Conforme a relação dos dois se torna mais íntima, Finkel precisa estar mais atento ao que pode confiar que seja verdadeiro ou não no relato de seu personagem. Pois, por mais que estejam próximos, o jornalista tem consciência de que vai se aproveitar da história – buscando um retorno glorioso ao mercado que o expulsou.
Em sua investigação, Michael Finkel sabe que é um jornalista mentiroso contando uma história verdadeira sobre um personagem mentiroso. E é essa dinâmica que pauta parte do cuidado tomado pelo autor durante as extensas conversas semanais que manteve com Longo (enquanto este aguardava pelo julgamento). No processo, observamos como a sinceridade se tornou um elemento essencial. E a armadilha em que Finkel acabou caindo (admitindo ao leitor) é a de que também serviu ao interesse de Longo. Em suas conversas com o jornalista, o prisioneiro confessava mentiras e as testava, tentando entender até que ponto elas podiam ser críveis em um julgamento. Ou seja, Michael Finkel acabou ajudando Christian Logo a reinventar sua própria história – não que isso tenha feito alguma diferença na sentença final do júri.
Autor não esperou Longo morrer
Os conflitos éticos da obra reforçam uma mensagem moral para a própria prática profissional jornalística – que é fundamental para quem está começando na área. Um bom jornalista não pode mentir e precisa evitar se envolver demais com seus personagens. São ideais que podem soar românticos, mas que não podem abandonar nossa prática. Afinal, além de existirem manipulações de informações muito menos justificáveis que as de Finkel em nossa imprensa, também assumimos facilmente versões de grandes crimes, como os da menina Nardoni em 2007, por exemplo. Justamente por isso é que A História Verdadeiraé um livro é tão valioso, pois nos colocamos no lugar do autor e nos solidarizamos com sua situação. Será que não faríamos as mesmas escolhas de Michael Finkel se estivéssemos em seu lugar?
Embora tenha conseguido encontrar uma salvação – que rendeu o excelente livro –, o processo se mostrou extremamente desgastante ao jornalista. O que provoca um eco do processo de finalização de A Sangue Frio, de autoria de Truman Capote (cristalizado pelos filmes Capote, de 2005, e Confidencial, de 2006). Mas, para nossa sorte, ao contrário do que fez Capote, o ex-jornalista do New York Times Magazinenão esperou Longo morrer para publicar sua obra. Isso porque o condenado está preso em Oregon aguardando a pena de morte até hoje.