Após a Guerra Civil, o Exército Vermelho decidiu substituir as lendárias pistolas do século 19 Nagan e Mauser por armas mais modernas. Por razões econômicas e de fabricação, os novos modelos teriam de usar cartuchos Mauser 7,63 milímetros, que, embora precisos e com alta velocidade inicial, não tinham poder de frenagem.
Os projetos apresentados por armeiros soviéticos tinham que se equiparar às melhores pistolas em serviço no mundo: Browning, Walther e Parabellum (Luger). Baseada na Browning de 1903 e com ciclos Mauser 7,62 x 25 milímetros modificados, a pistola de Fiódor Tokarev bateu a concorrência.
Após os testes em 1930, a comissão de avaliação do Estado concluiu que “sob a condição de que as falhas sejam corrigidas, a pistola é apropriada para adoção” pelas forças do país. Mas, apesar de soluções inovadoras, como recuo de cano curto e mecanismo de percussão de uma só peça, a pistola ainda apresentava algumas desvantagens significativas, incluindo a ausência de trava de segurança.
Devido ao grande número de ferimentos autoinfligidos envolvendo a TT, os investigadores soviéticos eram até treinados para distinguir disparos reais de tiros negligentes encenados na cena de um crime. Enquanto isso, cresciam as reclamações sobre a ergonomia da TT – resultado do corte de custos para sua fabricação.
As primeiras amostras da arma entraram em serviço em 1931 como a “o modelo de pistola autocarregável Tokarev de 1930”. Logo se tornou conhecida pela cidade de sua produção e pelo nome do designer: Tula-Tokarev, ou simplesmente TT.
Após as melhorias finais, a pistola entrou em serviço como TT-33. Ela rapidamente conquistou o Exército e as forças de segurança por sua precisão de longo alcance, alta potência inicial, e formato plano que permitia ocultá-la facilmente sob as roupas. A pedido dos usuários, sua capacidade foi aumentada de oito para doze ciclos em 1939.
Das guerras às gangues
A pistola esteve em ação na Espanha, nos conflitos fronteiriços entre a União Soviética e o Japão, e na Guerra de Inverno contra a Finlândia. Quando a União Soviética entrou na Segunda Guerra Mundial, a TT já era produzida em massa.
Cerca de 600 mil unidades foram entregues ao Exército Vermelho, e outras 100 mil a cada ano depois disso, mesmo após a evacuação da fábrica de Tula em meio ao avanço nazista. A produção foi retomada depois da guerra, e, com a fabricação intensa em Ijevsk e Kovrov, mais de um milhão de TT foram entregues só na década de 1950.
Após a guerra, a pistola entrou em serviço em outros países socialistas, que também começaram a produzi-las sob licença e vender exemplares por todo o mundo. Mesmo depois de a pistola ter sido formalmente retirada de serviço em 1951, ainda podia ser encontrada em unidades do Exército e da polícia soviéticos por mais uma década.
Nos anos 1990, no auge da febre de gângsteres que tomou conta da Rússia após o colapso da União Soviética, a TT voltou a ter destaque – mas dessa vez no contexto de assassinatos de gangues.
Hoje, a TT é muitas vezes oferecida como um “prêmio” na Rússia pelo serviço distinto e ainda acompanha oficiais de justiça, servidores do correio, e funcionários que trabalham com transporte de dinheiro e serviços de entrega.
Especialistas estimam que, no total, cerca de 3 milhões de unidades da TT foram produzidas ao redor do mundo. Muitas nunca foram usadas e são mantidas no estoque, com emissões periódicas ao mercado, onde são abocanhadas por colecionadores, especialmente nos Estados Unidos A Rússia também concorre no mercado com a China, que ainda produz versões comerciais licenciadas da TT.
À prova de críticas
Apesar de ser vista como uma lenda viva, os especialistas russos ainda ponderam sobre seus prós e contras.
O veterano de guerra e ex-chefe de armamento do Ministério do Interior, Iúri Karpetchenko, avalia a TT como a melhor já produzida, igualada apenas pela austríaca Glock entre os modelos ocidentais.
“Nós usamos a TT e a Mauser ao testar coletes à prova de balas”, disse Karpetchenko. “Ainda estamos para ver um colete que possa aguentar um ciclo inteiro de TT.” Segundo ele, a pistola compensa o baixo poder de frenagem com sua precisão.
Já o especialista em armas de fogo Vladímir Kislov, do centro de sistemas de defesa Dynamo, qualifica a TT como “irremediavelmente ultrapassada e cheia de falhas”, incluindo seu calibre pequeno, ausência de trava de segurança e a necessidade de pressão excessiva sobre o gatilho para realizar disparos.
O membro da equipe sênior do Museu das Forças Armadas da Rússia Serguêi Plotnikov também destaca falhas, como o recuo acentuado, o peso do cartucho e o insuficiente poder de parada. “Você pode acertar o alvo várias vezes e mesmo assim não fazê-lo cair se não acertar a cabeça ou órgãos vitais”, diz.
Fonte: http://br.rbth.com/