Dono de uma das maiores fortunas do Nordeste brasileiro, onde o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) vai de pior a sofrível, o senador potiguar José Agripino Maia (DEM-RN) – coordenador financeiro da campanha tucana de Aécio Neves (PSDB-MG) nas últimas eleições presidenciais – é alvo de um processo por corrupção e suspeito de superfaturar um tratamento dentário de mais de R$ 50 mil, pagos com dinheiro do Senado.
Sem exibir o sorriso de milhares de reais, o senador nordestino foi personagem de matéria no programa dominical da Rede Globo, o Fantástico, na qual se viu, frontalmente, acusado de receber mais de R$ 1 milhão para facilitar a montagem de um esquema de corrupção no serviço de inspeção veicular investigado pela Operação Sinal Fechado, do Ministério Público Estadual, em 2011.
Denunciado por integrar a quadrilha e delator, o empresário George Olimpio disse à Polícia que não somente Agripino participavam do esquema, mas também a ex-governadora do Rio Grande do Norte e atual vice-prefeita de Natal, Vilma de Faria (PSB), seu filho Lauro Maia, o presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira (PMDB), e o ex-vice-governador Iberê Ferreira (PSB), morto em setembro do ano passado, participaram da roubalheira. Procurados por jornalistas, todos eles negaram envolvimento com o assalto aos cofres públicos.
Segundo a delação premiada feita ao Ministério Público, o acerto com Agripino teria acontecido na cobertura do senador, em Natal.
– A informação que temos é que você deu R$ 5 milhões para a campanha do Iberê – teria dito o senador, segundo o depoimento do empresário.
Olimpio respondeu que doou R$ 1 milhão para a campanha do ex-vice e prometeu entregar R$ 200 mil imediatamente ao senador e outros R$ 100 mil na semana seguinte.
– Aí ficam faltando R$ 700 mil – teria acrescentado Agripino.
O empresário entendeu o comentário do senador como uma espécie de “chantagem”.
– Os R$ 1,15 milhão foram dados em troca de manter a inspeção – acrescentou Olímpio.
Em entrevista ao programa, Agripino confirmou ter recebido Olimpio tanto na cobertura em Natal quanto em seu apartamento em Brasília. De acordo com o senador, o empresário é “parente de amigos” de seu pai.
O representante da direita conservadora, no entanto, negou enfaticamente ter cobrado ou recebido propinas de Olimpio e pareceu indignado: “É uma infâmia!“:
– Ele não me deu R$ 1 milhão coisíssima nenhuma. Eu nunca pedi nenhum dinheiro, nenhum valor, conforme ele próprio declarou em cartório.
Em 2012, Olimpio registrou um documento em cartório, na capital potiguar, no qual afirmava jamais ter passado dinheiro ao presidente nacional do DEM mas, segundo os promotores que investigam o caso, o empresário mudou de ideia no ano passado, quando, sentindo-se “abandonado pelos amigos”, procurou o Ministério Público para sugerir a colaboração em troca de benefícios penais.
Embora tenha feito a delação, Olimpio segue como réu no processo. Os documentos que envolvem Agripino foram remetidos à Procuradoria-Geral da República e, de lá, uma vez a aceita a denúncia, para o Supremo Tribunal Federal (STF), uma vez que o senador tem direito a foro privilegiado.
Segundo os promotores do caso, Olimpio teria montado um esquema que envolveria as principais autoridades do Estado para aprovar uma lei que criava o sistema de inspeção veicular no Rio Grande do Norte. O presidente da Alern, Ezequiel Ferreira, teria recebido R$ 500 mil para aprovar a lei atropelando todo o rito legal. Segundo a Promotoria, o projeto que instaurava a inspeção veicular potiguar não passou nem sequer pelas comissões temáticas da casa antes de ser levada ao plenário.
A relação do empresário com políticos teria começado em 2008, quando Olimpio, por meio de um instituto responsável por gerir taxas referentes a financiamentos de automóveis no Rio Grande do Norte, repassava parte dos valores recebidos às mais altas autoridades do Estado. Em um vídeo exibido no início da reportagem, Olimpio aparece entregando maços de notas ao então diretor do Detran potiguar Erico Valerio de Souza, também envolvido no esquema de pagamento de propinas.
Dentadura cara
Na entrevista ao programa dominical, sem exibir um sorriso sequer, Maia escondeu do público a despesa que teve com um implante dentário. O Senado creditou na conta de José Agripino R$ 51 mil, referentes a 22 coroas de porcelana aluminizada, produto mais caro e que confere aparência melhor.
O parlamentar apresentou como justificativa o fato de ter sido um tratamento estrutural na boca, para consertar alegados erros de um dentista anterior.