Eu já falei por aqui que nem tudo na Alemanha são flores. Não me entenda mal: eu adoro viver aqui e se a balança não pendesse para o lado alemão, pode ter certeza que eu já teria me mudado. Não tenho vocação para masoquista e nem sou uma árvore. Mas esta semana esbarrei com um daqueles perrengues que me deixam louca da vida: a saúde.
Para começar, um aviso. Não existe saúde gratuita na Alemanha. Não há nada parecido com o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro. Não há assistência gratuita – a não ser em projetos de caridade – para quem não esteja no sistema. Isso vale também para turistas: quem não tem um seguro pode ser barrado na fronteira. Aqui se paga caro por saúde, bem caro e ter plano é obrigatório.
Bom, eu não cheguei aos 40 ainda e pago, por mês, mais de 800 reais de plano. Ok que é para mim e para meu marido, que foi aceito como meu dependente e isso não altera o valor, mas convenhamos que a conta é bem salgada. Ainda mais que não tenho a opção de não pagar e, mesmo pagando, não tenho acesso aos serviços que deveria ter.
O esquema todo aqui é o seguinte. Existem uma série de planos de saúde públicos (incluindo o meu). Ou seja, mesmo com os mais de 30% de impostos descontados em média dos salários, o Estado me obriga a pagar, todos os meses, por um plano de saúde. Posso escolher ainda um plano privado, mas caso minha conta comece a subir muito ou determinados serviços que eu possa precisar não estejam cobertos pela apólice, a coisa complica. Existem raras situações que permitem um usuário retornar do seguro privado para o público. Nesse caso, a opção é: ser refém do governo ou de uma empresa.
Não quero dizer aqui que o SUS é perfeito: não é. Mas existe. Tem filas, faltam médicos, sobram queixas: mas muita gente é atendida, recebe remédios e exames de qualidade sem pagar um centavo por isso. Na Alemanha não. E o tempo que se leva para marcar um médico por aqui, com o plano bem pago, é de deixar qualquer um a beira da morte. Hoje, depois de ligar para todos os endocrinologistas da cidade, consegui uma consulta!! Uhuuu… Para o final de novembro.
Ivana Ebel é “alemôa” de Blumenau e tem certeza que nasceu na região mais alemã do planeta. É jornalista com experiência no Brasil e mundo a fora. Começou sua carreira escrevendo para o Santa e vive na Alemanha desde 2008. Direto de Berlim, escreve o Fala, Alemôa! para dividir impressões, contar experiências pessoais e para mostrar um pouco mais do país que agora chama de casa. Vê o Vale do Itajaí e o mundo de forma crítica mas bem-humorada, e escreve sobre as diferenças e similaridades entre as duas culturas.
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