domingo, 3 de fevereiro de 2013

DIÁRIO DA MANHÃ ENTREVISTA FAMÍLIA DE VALÉRIO LUIZ


Família relembra Valério Luiz

O Diário da Manhã entrevistou a família do radialista Valério Luiz e descobriu que o homem de 39 anos, pai de três filhos, estava prestes a ter mais um bebê. A criança não virá, porque os planos de Valério e da viúva Lorena Nascimento eram fazer uma viagem internacional, antes da inseminação artificial. A reversão da vasectomia já havia sido feita, aliás.
Apesar das duras críticas e ofensas até mesmo pessoais, como o pai Mané de Oliveira mesmo diz, Valério sempre foi muito honesto e responsável. O cronista tinha um compromisso com a verdade e por isso mesmo, muitas vezes se viu em situações complicadas.
O cronista não se deixava resumir somente em ver e comentar esportes. Ele adorava esportes no gelo. A filha, Laura Gomes de Oliveira, se recorda com emoção da última conversa que tiveram: ensinamentos e bom humor.
entrevistas na íntegra
Mané de oliveira
DM: Como nasceu Valério, onde?
Mané: Em 1962 no final do ano, dia 3 dezembro, nasceu Valério, em Santa Rosa. Eu assisti o parto dele, foi emocionante. Era um rapaz impetuoso, de personalidade muito forte, sempre cuidou da vida dele, sempre alcançou seus objetivos, desde menino, e na sua maturidade, foi um ótimo comerciante.
DM: Fale um pouco de sua adolescência.
Mané: O Valério tem uma história interessante. Eu era muito amigo do João Carneiro, na época ele tinha uma garagem na República do Líbano. O Valério tinha 16, 17 anos, então pedi a ele que o empregasse, o chamando para trabalharna sua garagem, iniciando sua vida profissional. Combinamos que eu daria 150 reais por mês para ele pagá-lo, mas que isto ficaria entre a gente, ele não poderia saber.
Valério trabalhou na garagem por mais de um ano, foi excelente funcionário, e após um tempo eu montei uma imobiliária na Rua 4 do Bairro Central, e do lado tinha um estacionamento, foi quando  ele pediu o espaço pra montar um negócio de carro, com mais dois amigos, de sociedade. Ele chegou a comprar um carro da Chevrolet com essa empreitada.
Logo depois, ele montou uma loja de confecção, e ao mesmo tempo, na rádio. Começou a trabalhar comigo, no radialismo, e logo depois fomos juntos para a televisão. Eu não sabia de televisão, e ele já sabia tudo, pois já tinha trabalhado na Serra Dourada, na Televisão Anhanguera, e tinha uma boa noção de tudo.
Ele foi responsável pelo formato de logística da TV, coberturas, seleção de  jornalistas, e toda a equipe  geral. Ele começou como âncora, e depois se tornou comentarista. Trabalhávamos em uma emissora do governo, e para manter o estilo polêmico e direto dele, ele teve que  se afastar de mim,  até para não me prejudicar ele saiu, pois sua  sinceridade não era compatível com a emissora.
Foi então que meu filho entrou na Rádio Jornal e na  PUC-TV, onde fez o comentário que todo mundo sabe qual foi e eu acredito que foi a gota d’água  para sua execução.
DM: Ele sempre foi muito incisivo nas ideias que defendia. Teve algum fato na infância que marcou isso?
Mané: Ele discutia muito comigo, várias  vezes. Tinha um temperamento forte, e às vezes acontecia de não concordarmos um com o outro, pois eu também tenho personalidade forte. E isso é normal.
DM: Opinião forte foi o que matou seu filho?
Mané: Problema de opinião forte não é, pois às vezes você pode ter opinião forte, mas a dele era direcionada. Ele não falava o “dirigente”, ele fala o nome do cara, com todos os seus defeitos, e às vezes agressivo. E atingia a pessoa. E todo mundo sabe que quatro meses antes do seu assassinato ele fez um comentário sobre o Atlético, relatando seus problemas e tudo que viria a acontecer, e que realmente aconteceu, dentro do clube. Tudo que ele falou, aconteceu.
O Atlético foi rebaixado, os jogadores que o Atlético contratou não deram certo,  nem  resultados,  pois foram todos selecionados  em cima de interesses empresariais, então, não serviram. O clube estava se desmantelando.
DM: Qual fato do Valério mais te marcou como pai?
Mané: Valério me marcou tornando-se pai, pois quando casou pela primeira vez, teve uma filha, no segundo teve dois filhos, no terceiro ele não teve, mas se foram nove anos com a Lorena. O meu neto, filho dele, o Valerinho, hoje é advogado, a primeira filha  dele é fisioterapeuta, e a Laura está terminando Psicologia.
Valério não era um  cara de sair para bar, nunca foi de farra, nem de brigar, era um cara caseiro. Ele era intempestivo, discutia com qualquer um. Mas isso é assim mesmo, cada pessoa é de um jeito, um é mais quieto, outro é mais energético, agitado, e assim são as pessoas.
Lorena Nascimento De Oliveira (Esposa)
DM: Me fala sobre o Valério marido, companheiro, amigo.
Lorena Nascimento: A gente se dava muito bem. Um fato marcante, que mostra que ele era uma pessoa decidida, foi quando a gente se conheceu, em 2002. Ele já estava interessado em mim, mas eu nem imaginava. Frequentávamos a mesma igreja, e ele me observava, até que um dia me chamou para sair, pra gente jantar, e ele foi direto comigo, curto e grosso, dizendo que queria casar comigo. Eu perguntei como, pois mal me conhecia, mas ele alegou que já tinha investigado entre amigos e conhecidos sobre mim.
Namoramos nove meses e ficamos noivos, onde passamos mais um período de 2 anos. Então nos casamos,  estava me formando na época. Minha família gostava dele, mas tinha um certo receio, pois ele já tinha sido casado e tinha filhos.  Eu também tinha receio disso, e ainda não tinha a experiência de um relacionamento sério, era jovem, tinha só 22 anos.
DM: As opiniões que ele tinha, o estresse do trabalho, ele levava pra dentro de casa?
Lorena Nascimento: Depende. Nas opiniões pessoais ele era bem enfático. Se ele queria alguma coisa, ele ia até o final, então algumas opiniões minhas eram diferentes da dele, e a gente foi aprendendo a conviver juntos. Tínhamos uma convivência muito boa, éramos muito companheiros.
DM: Quais  eram as manias dele?
Lorena Nascimento: Ele gostava muito de pedalar. Umas duas vezes por semana ele ia para as imediações do autódromo, levantava 5 horas da manhã. Na hora que ele chegava do pedal era a hora que eu estava levantando. Ele adorava snowboard, onde ele praticou na Suíça e foi inesquecível. Quando ele viu a neve, ficou maravilhado. E foi aprendendo. Virou paixão. Ele aprendeu a esquiar na nossa lua de mel, em Bariloche.
DM: Essas prisões são amenizadoras?
Lorena Nascimento: Não, pois isso não muda nada. Ele não está aqui, não está vivo, e  isso não vai mudar. Tínhamos nossa vida, a nossa felicidade, assim como o plano  de um  filho que  teríamos, e também iríamos esquiar novamente. Estávamos planejando a inseminação artificial, pois ele já tinha feito a cirurgia de vasectomia. Cheguei a fazer todos os exames e estávamos em vias de concluir o projeto de ter um filho. Seria maravilhoso, pois ele sempre foi um pai muito presente com todos os filhos dele.
Não sei se é egoísmo meu, mas se tivéssemos concluído esse plano eu teria uma parte dele comigo hoje, mas ao mesmo tempo acho que para a criança seria difícil a ausência do pai. O Valério não ia gostar disso, tenho certeza, e como bom pai, ele gostaria de  estar junto. Como testemunha de Jeová creio que em algum momento ele será ressuscitado.
Laura Gomes de Oliveira (Filha)
DM: Como era o Valério?
Laura Gomes: Era um pai exigente na vida, na escola, em tudo. Ele era assim também  em sua vida profissional, com ele mesmo. Era uma pessoa muito amorosa, atenciosa e carinhosa. Moramos juntos por cinco anos, eu, ele e o meu irmão.
DM: Como pai, o que  exigia?
Laura Gomes: Ele exigia boas notas. Não era de cobrar, mas gostava de ver resultados, tanto na escola como na vida pessoal.
DM: As suas fortes opiniões atingiam você?
Laura Gomes: Acho que todos nós assumimos bastante a personalidade do meu pai. Era uma pessoa que acreditava muito na verdade, no que era certo, defendia sempre isso, doa o quem doer. Ele sempre deixava a verdade prevalecer.
DM: Qual marca ou lembrança você tem de seu pai?
Laura Gomes: Foi a última conversa que tivemos, onde aleguei que estava trabalhando, estudando, por isso me  encontrava cansada, e na época tive um desentendimento com minha chefe. Ele me apoiava, dizendo que a única pessoa que ia me amar pra sempre era o papai. Era um pai muito amoroso.
DM: Teve algum fato na infância que marcou seu pai pra você?
Laura Gomes: Lembro do meu pai em toda minha infância. Mas o que mais me marcou em relação ao papai foi o empenho que ele sempre teve com a família. Começou a vida como puxador de fios no estádio, e sempre foi muito trabalhador. Não lembro do meu pai saindo sozinho ou fazendo alguma coisa que não fosse para a família. 
FONTE: DIÁRIO DA MANHÃ

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