Agradeço aos céus que o tempo tenha tratado de nos livrar de aberrações musicais como Clayton & Camargo e outros embustes, assim como torço para que duplas ditas "sertanejas" em que apenas um integrante canta, enquanto o outro apenas mexe os lábios e toca violão desligado — Bruno & Marrone? - também se aposentem e livrem nossos ouvidos desta pavorosa "música de corno". Mas tenho que confessar que tenho vontade de vomitar toda vez que vejo gente na TV celebrando o sucesso do tal "sertanejo universitário".
Nunca escondi que luto o tempo todo para que o "sertanejo legítimo" volte a fazer parte da vida musical das pessoas, incluindo estas periguetes fantasiadas de "vaqueiras cocotinhas" e os rapazes metidos a "cowboys do asfalto", que não se tocam do ridículo que é usar chapelão, cinto de fivela que mais parece um escudo do exército de Esparta e botas de couro falsificadas. Adoraria ver toda essa massa de gente que mal sabe articular duas frases em sequência voltando a ouvir Tião Carreiro & Pardinho, Pena Branca & Xavantinho, Sérgio Reis, Renato Teixeira, Almir Sater e mais um monte de gente bacana. Ilusão minha?
Não usei no parágrafo acima o termo "sertanejo de raiz" porque isto seria apenas uma maneira de definir um gênero que precedeu o tsunami de música pop — no sentido mais amplo do termo — que varre o planeta desde a segunda metade do século passado. Da mesma fora, não dá para dizer hoje que existe uma "world music", já que este rótulo também foi absorvido pelo pop. O que antes era sinônimo de pureza virou uma designação puramente estética.
Se vivêssemos em um país menos preguiçoso culturalmente, teríamos estes "artistas" contemporâneos levando a molecada a ser sentir atraída pelas origens genuínas destes subgêneros que empesteiam o rádio e a TV. Seria muito legal ver algo que acontece com muita frequência nos Estados Unidos e na Europa, que é as gerações mais novas "retrocedendo no tempo" para checar como eram os sons e as influências originais dos artistas atuais. Lá fora, é comum ver um pirralho que adora o chamado "new country" americano ouvir um cara como Hank Williams III e ir atrás dos discos do lendário avô dele, Hank Williams, ou pesquisar a discografia do Johnny Cash depois de ouvir o Social Distortion tocando "Ring of Fire". Aqui no Brasil não acontece nada disto. A gente ouve Gusttavo Lima, Michel Teló e esta nojenta "tchê tchê rere music" e fica com vontade de encharcar as roupas com gasolina, se jogar dentro de uma fogueira e se enforcar na primeira árvore que encontrar pela frente...
É lógico que desde o surgimento desta "nova onda sertaneja" o termo já era equivocado, pois tudo o que Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó começaram a fazer no início dos anos 90 — a contragosto deles mesmos e por uma questão de sobrevivência artística - foi colocar a harmonização das vozes do gênero original em cima de canções "pop românticas" da pior qualidade. Aquilo de "sertanejo" não tinha absolutamente nada.
Infelizmente, o pouquíssimo do espírito pop da Jovem Guarda sobrevive hoje em artistas de 27ª categoria. Não adianta negarmos o óbvio: a música pop brasileira é o "sertanejo universitário". Não se discute isto. Tanto isto é verdade que inúmeros detalhes de produção deste tipo de música são os mesmos elementos daquilo que aprendemos como regras na cartilha da música pop mundial e até mesmo do rock. Ouça com atenção a maioria das músicas do Victor & Léo e do Fernando & Sorocaba e você vai sacar isto com nitidez.
Agora, não venham me dizer que ninguém mais liga para o "sertanejo genuíno", pois isto é uma bobagem enorme. A veteraníssima Inezita Barroso, que ainda hoje apresenta o programa Viola, Minha Viola na TV Cultura — a atração está no ar há inacreditáveis 32 anos — é a prova viva de que tal afirmação é um erro grosseiro de avaliação da realidade.
Assista aos vídeos abaixo e veja porque o atual panorama do "sertanejo universitário" dá vontade de chorar lágrimas de sangue...
Nenhum comentário:
Postar um comentário