Ao examinarmos o estado da economia global, a informação sugere que estamos em uma era de crescimento muito limitado. Larry Summers pode ter acertado ao descrever a atual situação como “estagnação secular”.
Hoje em dia, a maioria dos governos da OCDE não tem o músculo financeiro para alavancar suas economias no sentido de maior crescimento. Além disso, a falta de união política, como ilustrado no seio da União Europeia, dificulta chegar-se a um acordo que incentive a economia de forma coerente e coordenada. A falta de governança econômica global dificulta ainda uma potencial ação coletiva que poderia se traduzir, por exemplo, em novos planos de investimento em infraestrutura.
A título de exemplo, vemos o governo alemão recusar-se a concordar com flexibilidade fiscal a outros países da zona euro, destacando a aversão a qualquer sinal de pressão inflacionária. Ao mesmo tempo, o Banco Central Europeu (BCE) adverte que a inflação permanece preocupantemente baixa em todo o bloco do Euro, resultado da queda dos preços do petróleo, do crescimento econômico lento e da alta taxa de desemprego (atualmente em 10,5%).
Pode parecer inacreditável para ouvidos acostumados a preocupar-se com a alta de preços, porém, a verdade é que inflação baixa demais cria quase tanto medo em bancos centrais e economistas quando inflação alta demais. Preços quase estagnados alertam para uma situação perigosamente perto de deflação: uma espiral descendente de preços que se retroalimenta de forma danosa ao crescimento e à criação de emprego. Neste contexto, são esperadas de Mario Draghi, Presidente do BCE, medidas de alívio quantitativo (QE, sigla de “Quantitative Easing”).
Enquanto isso, o outro lado do oceano não releva cenário alentador. Como sabemos, a mudança estrutural chinesa que causa desaceleração econômica não é nenhuma surpresa. Em outras palavras, a desaceleração econômica da China vai servir para nos informar quão resilientes estão as economias emergentes – e o Brasil se inclui nessa laia.
Estamos longe de estar economicamente bem. Poderemos estar saindo lentamente de uma grande recessão, mas só o tempo dirá se realmente iremos superá-la. Podemos questionar se a abordagem dos governos e bancos centrais é correta, mas ao que parece, o que se vê e se prevê é um crescimento econômico global muito lento.
Deste modo, é importante ressaltar que a situação atual é vulnerável e alguns fatores podem, sim, desencadear uma crise de maiores proporções. Tais são:
- Economias emergentes altamente dependentes de commodities poderão ter um impacto negativo na atividade econômica global se não forem tomadas as medidas certas. Neste ponto, acredito que não precisemos discorrer mais, ou mesmo “dar nome aos bois”.
- A falta de uma governança econômica global forte e coordenada poderá levar ao desenvolvimento de estratégias que visam prejudicar “inimigos” e acabam por criar conflitos econômicos danosos a todos. A desordem multipolar atual não está criando políticas coletivas sensatas; pelo contrário, acaba gerando políticas concebidas como armas econômicas. Isso não é novidade na história da economia global, mas parece ser a ordem vigente da diplomacia estratégica dos nossos tempos.
Com o atual estado frágil da economia global, juntamente ao sistema interligado em que vivemos, suas consequências poderiam ser altamente negativas – aí sim, estaríamos outra vez em uma grave crise econômica global.
Pedro Sousa, Economista mestre pela universidade de Minho
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