segunda-feira, 12 de outubro de 2015

PMs que mataram jovem em Niquelândia, serão investigados pela Polícia Civil


O delegado Cássio Arantes do Nascimento, titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) da Polícia Civil em Niquelândia, instaurou inquérito policial para apurar se houve – ou não – excesso na conduta dos dois policiais militares envolvidos na morte do mecânico Mateus Ribeiro Cardoso, de 18 anos, alvejado por um tiro no peito às 00h30 do sábado (26) na rodovia GO-237, trecho conhecido como Rodovia da Fé (Niquelândia-Muquém) nas proximidades do entroncamento com a rodovia GO-532 (Niquelândia-Anglo American). A única versão oficial sobre o caso, até o presente momento, é do comandante da 4ª Companhia Destacada da Polícia Militar (4ª CDPM) de Niquelândia, capitão Pedro Rodrigues dos Santos Júnior que, na segunda-feira (28), detalhou à imprensa que a corporação recebia muitas reclamações da suposta existência de uma “gangue de motociclistas” (jovens e adolescentes, em sua maioria) que circulavam pela cidade em alta velocidade; com escapamentos modificados/ruidosos; e deitados sob o banco das motos (com os pés fora dos pedais); fazendo arruaças no trânsito local.
No dia dos fatos, de acordo com o militar, um grupo foi avistado nessa circunstância e acompanhado (perseguido, na verdade) até que um desses motociclistas – identificado posteriormente como sendo Junismar Ribeiro da Silva, de 22 anos – teria surgido repentinamente de uma estrada de terra; e entrou na GO-237 com os faróis desligados, quando colidiu frontalmente com o Gol da corporação. Junismar fugiu em direção à mata e os PMs, com o veículo avariado, não conseguiram localizá-lo de imediato, também de acordo com o comandante. Foi aí que, enquanto aguardava-se a chegada do guincho à retirada dos veículos acidentados que, de acordo com o militar, Mateus surgiu e deparou-se com os dois PMs posicionados no meio da rodovia, de arma em punho e com o luminoso da sirene ligado, quando determinaram ao rapaz que parasse a moto. Segundo o comandante da PM, seus subordinados relataram que o jovem morto reduziu a velocidade quando notou a viatura parada, ao que recebeu voz de prisão. Porém, o jovem teria acelerado a motocicleta em direção aos PMs numa provável tentativa de atropelamento, segundo Pedro Rodrigues. Cada um dos PMs, também de acordo com o comandante, deu dois tiros na direção do rapaz que rodou mais 200 metros antes de cair com a moto, mortalmente ferido com um disparo na altura do lado esquerdo do peito. O capitão, na entrevista coletiva, chegou a comentar que os PMs lotados em Niquelândia ´não possuem índole assassina e que não saem às ruas para matar´. Em Uruaçu, o comandante do 14º BPM, tenente-coronel Maxwell Franco de Morais, abriu sindicância administrativa para avaliar a conduta dos dois PMs.
A PALAVRA DO DELEGADO
“Apesar da apuração que será feita no âmbito militar, pelo 14º BPM em Uruaçu, isso não nos desobriga (a Polícia Civil) da instauração do inquérito policial. Existe, no Código Penal, previsão de que os crimes contra a vida (homicídio e outros), cometidos por um militar contra um civil, sejam julgados pela Justiça Comum, com júri popular em caso de ação dolosa (quando há intenção de matar) ou culposa (quando não há intenção) pelo juiz de Direito. Já pedimos, ao IML e Polícia Técnica (de Uruaçu), a expedição do laudo cadavérico (do corpo de Mateus); da perícia feita no local de crime; apreendemos as duas armas usadas naquele dia, que também serão periciadas para comprovar que estavam em condições de funcionamento para provocar aquele incidente; e também ouvir os dois policiais. O rapaz que bateu na viatura (Junismar), também será ouvido. Digo à comunidade, nesse momento, que a minha atividade como delegado será absolutamente imparcial, em que irei produzir um relatório com análise técnico-jurídica sobre o que apuramos no desenrolar das investigações, para dar minha conclusão. Se for observado que houve, de fato, legítima defesa (dos PMs) eu não farei o indiciamento. Porém, se for observado que, dentro desse contexto, houve algum excesso na conduta, eles (os PMs) poderão, sim, responder criminalmente por esse eventual excesso. Com relação aos dois tiros disparados por cada um, existe uma prática de treinamento militar chamada double tap, que prevê dois disparos iniciais para evitar uma possível agressão injusta. Também apuramos que o rapaz (Mateus) em agosto de 2013, quando ainda era menor, aos 16 anos, fora apreendido em situação de ato infracional pela PM em Crixás por guiar uma moto, sendo localizado em seguida na casa onde lá morava. Na investigação do caso em si, da morte dele, o fato ocorrido há dois anos em Crixás é um subsídio para eu avaliar que reação ele teria – de tentar evadir-se ou não – já que foi novamente abordado por policiais na mesma situação (dirigindo moto, sem CNH). Porém, depois do fato acontecido, parece muito fácil para mim e para o leigo avaliar tudo o que aconteceu naquele dia, de acordo com alguns comentários que li nas redes sociais. Eu terei 30 dias para fazer isso, enquanto os dois PMs tiveram apenas três segundos para decidir uma situação em que pode ou não ocorrer a morte de uma outra pessoa. Por isso, reitero à sociedade que meu objetivo será produzir um relatório imparcial”, disse Cássio Arantes, responsável pelas investigação do caso.


Fonte: http://www.uruacufm.com.br

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