quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A CRISE ECONÔMICA GOLPEOU AS POTÊNCIAS RICAS E O BRASIL EM DESENVOLVIMENTO SENTIU OS EFEITOS GLOBAIS



Vendido como uma solução “mágica” para o problema de oferta mundial de petróleo, ainda que altamente poluente, o petróleo extraído de depósitos de xisto (“tight oil”) revela-se como mais uma bolha insuflada pela indústria financeira. As denúncias já vinham sendo feitas há tempos, mesmo em publicações de negócios como Forbes (vide o texto “Why shale oil boosters are charlatans in disguise”, publicado em janeiro de 2014). Com a queda mundial da demanda econômica, que pode ser vista, por exemplo, em um preço muito baixo para o frete marítimo, o preço do petróleo também caiu. Arábia Saudita e Rússia podem ainda lucrar com seu petróleo convencional cujos custos de produção são baixos, mas os altos custos da produção de xisto já cobram seu preço: o número de sondas de perfuração em operação é o mais baixo desde 2011. A inviabilidade do petróleo do xisto como alternativa ao petróleo convencional ficou clara nesse evento. E muito da esperança norte-americana de uma recuperação real de sua economia e de seu poder geopolítico baseava-se nisso.


3. Mais uma “recuperação espetacular” da economia norte-americana vira pó em semanas


Em dezembro de 2014 jornais do mundo inteiro publicaram a notícia de que a economia norte-americana vinha crescendo a taxas anualizadas de 4% (alguns diziam 5%). Comentaristas eufóricos explicavam que finalmente a economia dos EUA tinha saído da crise, que seu crescimento seria saudável e sustentado. Previa-se um 2015 róseo para a economia norte-americana. Para quem segue os eventos internacionais, entretanto, parecia apenas a manifestação de um ritual semestral que se repete desde a crise de 2008: alguns indicadores econômicos positivos isolados são analisados fora de seu contexto maior, análises estridentemente eufóricas são publicadas na mídia e meses depois, quando a “recuperação” mostra-se inexistente, todos se esquecem do assunto. Esta vez, porém, parece ter sido a gota d’água: escrevendo no excitável Financial Times, o comentarista Gavyn Davies recentemente (29/03/2015) afirmou que as expectativas otimistas do Banco Central dos EUA (Federal Reserve) para 2015  já estavam sendo desmentidas pelos dados reais.  Quem ainda acreditará quando The Economist e Wall Street Journal anunciarem novamente o fim da “recessão”? A verdade, dura e incontornável, é que não há recuperação econômica real à vista, seja nos EUA, na Europa ou no Japão.  


4. A criação do AIIB e o vexame público de Washington


O AIIB - abreviatura em inglês de Banco da Ásia para Investimento em Infraestrutura - era uma proposta do governo da China lançada no final de 2013 para contornar as limitações encontradas pelo país asiático em instituições lideradas pelo ocidente, tais como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Banco para o Desenvolvimento da Ásia. Com sede em Beijing, a proposta sempre foi resistida pelos Estados Unidos. Finalmente lançado em outubro de 2014, o banco atraiu países asiáticos com grandes economias, tais como Índia e Indonésia. Mas a grande surpresa viria em março de 2015: a despeito das ressalvas públicas feitas por Washington à instituição, países tradicionalmente aliados aos EUA, como Reino Unido, Austrália, Coreia do Sul, Alemanha, França e até Taiwan submeteram ou decidiram submeter suas candidaturas a membros do banco. Até mesmo o ex-Secretário do Tesouro dos EUA, Larry Summers, publicou um texto em seu blog afirmando que “o mês passado [março de 2015] pode ser lembrado como o momento no qual os Estados Unidos perderam sua posição de garantidores do sistema econômico mundial”, em grande parte baseando sua análise nos eventos que cercaram a criação do banco.


5. E a economia da Rússia não entrou em colapso


Esquecida pela mídia ocidental, a guerra econômica contra a Rússia parece ter fracassado. O rublo continua existindo e o governo de Moscou não mostra qualquer sinal do enfraquecimento tão sonhado pelo ocidente. A situação na Ucrânia, cuja integração à União Europeia parece ter desaparecido da pauta de discussões em Bruxelas, evolui para uma verdadeira guerra interna pelo poder, onde “oligarca devora oligarca”. O leste do país tornou-se de fato independente. A histeria ocidental anti-Rússia parece ter consumido seu combustível, ao menos por enquanto.  Com isso, mais uma trapalhada geopolítica ocidental perde fôlego, embora a proximidade de eleições em países europeus importantes sugira que políticos desesperados possam pensar em ações desesperadas.
 
O fim do começo é também o fim do período pós-crise de 2008 durante o qual os governos ocidentais acreditavam em sua capacidade de recuperação. A próxima etapa será, salvo surpresas, a de uma difícil negociação com suas populações, que finalmente começam a entender que o passado não retornará, que os níveis de vida pré-2008 foram embora para sempre e que o futuro não será mais o que costumava ser. Desnecessário dizer, esses serão momentos de extraordinário risco, de grandes oportunidades e de permanente surpresa para todos que vivem nestes tempos tão intensos.  
Fonte: Cartamaior

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