Se você estivesse numa feira, no Rio de Janeiro, no início da década de 90, provavelmente encontrasse André Ramiro fazendo carreto. Tempos depois, o encontraria tomando conta de placas na Avenida das Américas, na zona oeste carioca. Ou ainda como office boy, atendente de boteco, caixa de supermercado, e porteiro de cinema. Por fim, ao assistir ao filme Tropa de Elite, você o encontraria como André Matias, o soldado do Bope e do aclamado capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura.
André Ramiro nasceu em Lins de Vasconcelos e foi criado no bairro de Vila Kennedy, em Bangu, na favela da Metral. Tem duas irmãs por parte de mãe, três irmãos por parte de pai e um filho de nove anos. “Fui criado e educado por minha mãe, tive uma infância simples em um lar de valores cristãos. Com doze anos e como já era o homem da casa, tive que conciliar trabalho e estudo”, destaca André, ao mesmo tempo em que lembra que foi uma criança hiperativa e criativa. “Gostava de desenhar, pintar, assistia a muitos filmes, colecionava histórias em quadrinhos, ouvia muita música e comecei a praticar artes marciais aos 14 anos”.
Com 22 anos, Ramiro conheceu a cultura hip-hop no bairro boêmio da Lapa. Por meio de um amigo, começou a participar da Batalha do Real, competição em que MCs se enfrentam, por turnos, com rimas improvisadas. “A partir daí participei de varias edições da Liga dos MCs. Naturalmente fui envolvido no universo artístico da cultura urbana e foi aí que tudo começou.”
Dentro da tropa
“Como assim ‘tudo começou’, André? Tudo o quê?”, pensei, mas em seguida ele respondeu. “Tudo começou no fim de 2005. Nessa época, eu era porteiro de cinema e rapper.” Em um dos eventos, conheceu o ator João Velho e logo se tornaram amigos. João passou o contato de André para a Zazen Produções, de José Padilha e Marcos Prado, pois estavam procurando alguém com o perfil do Matias. “Recebi uma ligação me convidando para testes do filme Tropa de Elite. Esse foi meu primeiro trabalho como ator”, observa.
A partir daí, André foi convidado para inúmeros festivais de cinema nacionais e internacionais, foi premiado e só então começou a estudar teatro. “Fiz dez longas-metragens no Brasil e exterior, inúmeros curta-metragens e algumas participações na Globo.” Atualmente, tem contrato com a Rede Record, na qual teve participação em uma novela e está gravando seu segundo seriado. O ator também possui um disco de rap gravado, além de outros projetos cinematográficos com amigos ou por convite.
Ramiro viveu um marco na história do cinema nacional. Em Tropa de Elite, ele entrou na pele de Matias, o aspirante que depois virou capitão do Batalhão de Operações Especiais. “Os filmes Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro abordam a realidade social, econômica e política da Polícia Militar do Rio de Janeiro, da população carioca e, consequentemente, do Brasil. Um filme sem máscaras que reflete o quanto é necessário assumirmos nossa responsabilidade como cidadãos”, acredita o ator.
Segundo ele, os longas vão ao encontro das seguintes perguntas: “É assim que queremos ser governados? Somos protegidos mesmo pela polícia? Temos boa saúde, boa educação? Somos ressarcidos dos nossos impostos? Divido as perguntas com todos, crendo que a verdadeira riqueza de uma nação é a sabedoria e que feliz é a nação cujo Senhor é Deus”.
Acertando o alvo
Por falar em Deus, André cresceu em um lar cristão e seu encontro com Cristo veio de dentro de sua casa. “Vivemos num mundo em que a vaidade, o desejo material e nosso próprio eu nos fazem adorar mais a criatura que o Criador. Como sou um homem falho e limitado por essência, não foi diferente comigo e, consequentemente, afastei-me dos ensinamentos de Cristo.” Mesmo ganhando o mundo, com sucesso na vida financeira e profissional, o ator fracassava dentro de casa e se sentia vazio.
“Procurei e visitei várias religiões acreditando que o caminho para melhorar seria através da espiritualidade”, continua, “foi quando minha mãe e minha irmã se aproximaram me dando carinho e conselhos, incentivando-me a ler e a estudar a Bíblia”. Mateus 11:28, 29 foi o verso que tocou no coração de André: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.”
“Senti-me tocado e, por meio da minha irmã, conheci a Igreja Adventista. Fiquei impressionado com a maneira detalhada com que a igreja transmite os ensinamentos da Palavra de Deus”, afirma o ator. Ele recebeu estudos bíblicos de diversos pastores. “Desde então, decidi voltar a estudar a Bíblia, fui batizado, fiz novos amigos, participo de grupos de estudos bíblicos e a cada passo minha vida tem sido transformada, no passo da prática da militância da fé.”
Quando perguntado sobre a reação e opinião da família, amigos e colegas de trabalho a respeito desse novo estilo de vida, André é sucinto. “Minha família está feliz. Meus verdadeiros amigos entendem e aceitam minha escolha, entretanto, quanto ao restante, peço sabedoria a Deus para poder lidar”, resume. “Acredito que quando nós decidimos levantar a bandeira do Rei do Universo naturalmente as lutas e dificuldades virão, mas a vitória é sempre certa!”, alegra-se.
“O que você teve que renunciar, André?”, questionei. “Acredito que, como qualquer pessoa, o que temos de renunciar todos os dias, desde o momento em que acordamos, é nosso próprio eu”, explica. De acordo com o ator, a vaidade e os desejos carnais massacram o ser humano. A desobediência traz culpa e nos afasta do Pai. “Não sou perfeito, nem melhor que ninguém. Nossa luta é travada diariamente e será assim por todos os dias de nossa vida! Sem Deus nada podemos fazer.”
Missão dada, é missão cumprida
Voltando ao assunto da vida artística, cinema e televisão, Ramiro afirma que vai continuar atuando. “Creio que Deus não tem me dado o dom de atuar e não me colocou no lugar onde estou à toa. Segundo as palavras de Cristo, somos a luz do mundo e o sal da Terra. Tudo que aprendemos com a Palavra de Deus deve ser transmitido, principalmente para as pessoas que estão perdidas e não conhecem a Jesus.”
André acredita que as atitudes do cristão despertam o interesse nas pessoas em conhecer sobre essa novidade de vida (Rm 6:4). Elas estão nas ruas, em casa, no trabalho e no meio social. “Faz parte dos meus planos continuar atuando, pedindo a Deus que me proporcione trabalhos em que eu possa honrar o nome dEle. Seja dentro do meio cristão ou fora dele. Todos nós temos uma missão”, conclui o ator. E como diz o slogan do filme Tropa de Elite: “Missão dada, é missão cumprida”.
Passamos pela feira, pela Avenida das Américas, pelo boteco, observamos as ruas procurando um office boy, entramos em supermercados, lojas de conveniência e portarias de cinemas e nada do cara do Tropa de Elite. Contudo, se você, hoje, visitasse a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Botafogo, no Rio de Janeiro, com certeza encontraria André Ramiro. O filho pródigo retornou à casa do Pai.
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