terça-feira, 14 de abril de 2015

Júri em Aparecida de Goiânia condena acusados pela morte de Leonardo Pareja e outros dois detentos

Em julgamento realizado ontem (13/4), o Tribunal do Júri de Aparecida de Goiânia condenou cinco réus pela morte de Leonardo Pareja e de outros dois presos do antigo Cepaigo, além de uma tentativa de homicídio. A pena total dos acusados é de 45 anos e 6 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado. O julgamento integrou a programação da Semana Nacional do Júri.
A acusação contra os réus Eduardo Rodrigues de Siqueira, Eurípedes Dutra Siqueira, José Carlos dos Santos, Ivan Cassiano da Costa e Raimundo Pereira do Carmo Filho foi sustentada pela promotora Renata de Oliveira Marinho e Sousa. A sentença condenatória foi lida pelo juiz Leonardo Fleury Curado. 
No julgamento, o Ministério Público pediu que fosse desconsiderada a qualificadora de emprego de meio cruel em relação às mortes de Leonardo Pareja e de Veriano Manoel de Oliveira. Dos seis denunciados pelo crime, apenas Sérgio Luciano de Almeida não foi levado a julgamento. Na ação ocorrida no presídio, foi morto ainda Grimar Rodrigues de Souza, tendo Manoel de Oliveira Filho sobrevivido à agressão. O ataque ocorreu em 9 de dezembro de 1996, no antigo Cepaigo.
Os homicídios
De acordo com os autos, os acusados planejaram matar Pareja, e todos ligados a ele, porque Leonardo entregou os acusados à direção do presídio, quando descobriu um plano de fuga por um túnel que os réus cavaram.
No dia do fato, em 1996, munidos de “chuchos”, facas e uma pistola calibre 45, os denunciados foram até Veriano e o esfaquearam, sem chance de defesa. A vítima morreu no local. Em seguida, os réus localizaram Leonardo Pareja, na escada próxima à sua cela. Eurípedes Dutra agrediu Pareja com um tapa no rosto, enquanto Eduardo Rodrigues esfaqueava-o no pescoço. Leonardo correu para o final do corredor, lá foi encurralado por José Carlos, Ivan e Raimundo. Eurípedes disparou cerca de cinco tiros em Pareja, que faleceu no local.
Em sequência, o grupo invadiu a cela de Grimar Rodrigues de Souza e Manoel de Oliveira Filho. As vítimas se esconderam no banheiro. Eurípedes descarregou o restante da munição em direção a eles. Grimar morreu na hora; Manoel, por sua vez, fingiu estar morto até os acusados saírem da cela. O grupo, então, seguiu para a cela de outro preso, porém, este se rendeu. Em seguida, os acusados entregaram as armas aos agentes prisionais, pois os alarmes estavam soando e os policiais se preparando para invadir o prédio.
Pareja e rebelião
Leonardo Rodrigues Pareja ficou conhecido nacionalmente após comandar uma rebelião que durou seis dias no antigo Cepaigo, tendo feito várias autoridades de reféns enquanto visitavam o complexo prisional. Entre as vitimas estava o então presidente do TJGO, Homero Sabino de Freitas.
Em decorrência da rebelião, Pareja fugiu levando seis reféns. Durante a fuga, parou em um bar, deu autógrafos, comprou cigarros e bebidas. Foi recapturado em um posto de gasolina em Porangatu, após cerco da polícia.

O primeiro crime cometido por Pareja aconteceu em Salvador, em setembro de 1995. Ele sequestrou uma criança de 13 anos por 59 horas. Depois de driblar a polícia em três Estados, e dar uma entrevista contando sobre sua vida, Leonardo se entregou no dia 12 de outubro de 1995. (Texto: Suzany Marques/Estagiária da Assessoria de Comunicação Social do MP-GO – Supervisão de estágio: Ana Cristina Arruda

Os crimes de Leonardo Pareja

“De galã a presunto. O último show de Leonardo Pareja, o bandido que posava de mocinho” (Revista Veja, edição 1475, 18 de dezembro de 1996).
Leonardo Pareja foi um dos bandidos mais emblemáticos da década de 1990. Ousado, desafiou a inteligência da polícia e obteve uma fama que lhe rendeu algumas dezenas de páginas de jornal. Em setembro de 1995, o bandido manteve refém durante 60 horas a sobrinha, de 13 anos, do então senador Antônio Carlos Magalhães, em Feira de Santana (BA). A partir desse episódio, teve início a caça ao sequestrador. Como relatou o jornal O Globo do dia 7 de setembro do mesmo ano, mais de 300 policiais civis e militares participaram das buscas iniciais.
“Polícia desiste das buscas a sequestrador”. Era o que dizia a manchete da matéria publicada na página 5 d’O Globo, dois dias depois (09/09/1995, O País, p. 5). “Leonardo parece ter conseguido driblar a polícia”, afirmava, na mesma matéria, o delegado da localidade onde o sequestrador supostamente estaria escondido, Bom Jesus da Lapa (BA). Pareja ia, aos poucos, criando a sua fama.

Uma das formas pelas quais o bandido cultivou sua imagem de invencível foi através de entrevistas concedidas a algumas rádios. No dia 19 de setembro de 1995, O Globo dedicou um box a um desses casos: “Sequestrador dá entrevista. Procurado pela polícia, bandido liga para rádio”. Leonardo Pareja teria ligado para uma rádio de Feira de Santana (BA) para desmentir algumas informações falsas a seu respeito. “Truncaram informações propositalmente. Disseram que eu fiz coisas com a menina (de treze anos, que ele sequestrara no início do mês). É mentira”.

A matéria ainda diz que o rapaz demonstrava tranquilidade e bom humor. O locutor da rádio, segundo o jornal, teria dito ao sequestrador que ele ficara famoso na cidade, onde teria sido montado um fã clube em sua homenagem. “Pára com isso. Não quero essa fama toda”, teria respondido Pareja.

No dia 2 de outubro de 1995, Pareja conseguiu escapar novamente dos policiais. “Leonardo – que já escapara da polícia baiana – protagonizou outra fuga espetacular”, noticiava O Globo do dia 5. Finalmente, no dia 12, o bandido se entregou à polícia no município de Santa Helena de Goiás (GO). O Globo conversou com Pareja, que revelou: “Venci o jogo com a polícia”. “Leonardo diz que a ajuda de amigos – alguns deles empresário que não identifica – e a ineficiência dos policiais contribuíram para o êxito de suas fugas” (O Globo, 13/10/1995, O País, p. 7). Pareja era realmente ousado: “Me entreguei ao juiz porque meus amigos estavam sendo torturados pela polícia. Se não me entregasse, a polícia não me pegaria, mas muita gente inocente acabaria sendo prejudicada”, disse ele, na mesma matéria do jornal.

O bandido voltou aos jornais no ano seguinte, em março de 1996, ao supostamente liderar uma rebelião com reféns no Centro Penitenciário Agro-Industrial de Goiás (Cepaigo). Os presidiários que participaram do motim fizeram uma série de exigências para o governador de Goiás à época, Maguito Vilela, entre as quais armas, carros para a fuga e cem mil reais. Além disso, tinham combinado: a polícia só iniciaria a perseguição dez horas após a fuga. Os pedidos foram aceitos pelo governador. A fuga foi anunciada de forma inusitada: de acordo com O Globo do dia 4 de abril de 1996, o anúncio foi feito por Leonardo Pareja através de uma coletiva de imprensa concedida a cinco emissoras locais. No mesmo dia, o bandido foi cercado pela polícia e se entregou.

  
“Pareja desfruta de mais 6 horas de fuga e fama. Reconhecido por onde passava, porta-voz dos rebelados foi assediado por mulheres e distribui autógrafos como um herói” (O Globo, 5 de abril de 1996, O País, p. 8). “O bandido e os otários. Como Leonardo Pareja fez a polícia de boba” (Veja, edição 1439, 10 de abril de 1996, Capa).

Em dezembro, mais precisamente no dia 9, Pareja foi assassinado dentro do mesmo Cepaigo. “Pareja é morto três dias após descoberta de túnel. Namorada diz que bandido tinha intenção de escapar. Para diretor, detentos brigaram entre si porque plano de fuga vazou” (O Globo, 10 de dezembro de 1996, O País, p. 8). “Terminou de maneira inglória a carreira de Leonardo Pareja, o bandido exibicionista que fez a polícia de gato-sapato em duas ocasiões” (Veja, edição 1475, 18 de dezembro de 1996, p. 122).

Nenhum comentário:

Postar um comentário