Dia 24 de dezembro, 16h, véspera de Natal. Na rua Pará número 25, em Campos do Mourão, no Paraná, dois homens se encontraram em meio à rua para tirar suas diferenças. Empunhando revólveres, fizeram um duelo à moda antiga. Sebastião Pereira de Souza, 57, acertou quatro dos seis disparos no rosto de João Gonçalves, 51. Mesmo já ferido e, ainda ajoelhado, João efetuou apenas dois, acertando um dos tiros. Após o tiroteio, as diferenças de cada um deles caiu por terra, ou melhor, sobre a terra. Na rua cascalhada, na pequena Nova Cantú – 140 Km de Campo Mourão, o sangue escorrido sobre as pedras já dava o resultado do confronto: os dois morreram.
João e Sebastião morreram juntos, assim como viviam: os dois eram amigos. Se mataram ás vésperas do Natal e foram enterrados no dia do Natal, em covas simples e, distantes uma da outra. Acabaram sepultados no cemitério local, onde as diferenças definitivamente não existem e cuja entrada estampa os dizeres: “ Aqui somos todos iguais”.
O fim da história dos dois amigos teria começado há cerca de 30 dias. Viciados em baralho – tranca -, participaram de uma rotineira jogatina na cidade. Mas tiveram um sério desentendimento na contagem do jogo. Um não concordava com o outro. Assim, durante todos os dias decorrentes até a tarde de ontem, os colegas passaram a assistir xingamentos, juras de morte, ameaças. A amizade entre João e Sebastião, definitivamente, havia terminado.
Os dois encontraram-se por volta das 15h30 de ontem. Estavam em um mercado. Um encontro casual, mas que originou uma ira fulminante. Sebastião teria ofendido João. O último não se calou. Sebastião disse que estava armado. João disse não estar. Pessoas da cidade disseram ter ouvido Sebastião dizer: “Não sou covarde. Vá pegar sua arma então”. Minutos depois disso, o duelo aconteceu no centro da cidade.
Então, por volta das 16h, os dois se confrontaram. Segurando um revólver calibre 38, Sebastião teria acertado primeiro. João estava com o seu velho chapéu de sempre e empunhava um revólver calibre 32, mas o suficiente para tirar a vida do amigo. Ao todo foram oito disparos. Apenas três deles não os atingiram. Diferente da música “Faroeste Caboclo”, no momento não havia multidão, muito menos câmeras de TV. Apenas os dois amigos. E morreram juntos.
Sebastião era taxista e conhecido entre toda a pequena população de pouco mais de 8 mil habitantes. Era chamado por “Tião Seco”. Aos 57 anos, tinha o sangue quente nas veias, como informou o próprio sobrinho, Antônio Gonçalves Ferreira. Seu temperamento mostrava um homem com atitudes imediatistas e, vez em sempre, com um gênio difícil.
Joâo morava no sítio, onde criava galinhas, alguns porcos e zelava de sua pequena lavoura. Vinha à cidade com frequência e, quase sempre, adentrava às rodas de baralho. Seu gênio também não era fácil. Contam alguns conhecidos que era bom com a arma. “Podia acertar um palito de fósforo”, disse um morador local. Em comum, os dois acreditavam de Deus, eram casados e tinham três filhos cada um.
De acordo com a Polícia Militar, quando os policiais chegaram à cena do crime, os dois já estavam mortos. “Certamente a causa foi a desavença na mesa de baralho”, disse o cabo Araquém. De acordo com ele, o pequeno município mantém um histórico de duelos, embora não registre índices de violência. Há mais de 20 anos, foram pelo menos três duelos na cidade. Mesmo assim, em 2014, a polícia ainda não havia registrado nenhum caso de homicídio.
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