domingo, 2 de novembro de 2014

Mais de um milhão de cisternas já instaladas em todo o Brasil

A meta de instalar um milhão de cisternas no semiárido Nordestino para captação de água vai ser alcançada até dezembro deste ano e somando-se os reservatórios já em funcionamentos e a média de instalação deste ano a quantidade ultrapassará em alguns milhares de unidades da meta de um milhão de cisternas. Água para todos passou a instalar reservatórios para o uso de água na produção familiar.
além das cisternas de consumo, o programa passou a instalar as cisternas de produção, que permite o armazenamento de água para plantio familiar e criação de pequenos animais. Para isso são utilizadas tecnologias sociais como barragem subterrânea, cisternas, calçadão e  cisterna de enxurradas, que permite armazenar até 52 mil litros de água captada da chuva. Até o més de junho passado já tinha sido entregues 959,181 cisternas.

Programa ganha prêmio da ONU

O Programa Um Milhão de Cisternas, da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), recebeu reconhecimento internacional. A ação ganhou o Prêmio Sementes 2009, da Organização das Nações Unidas (ONU), concedido a projetos de países em desenvolvimento feitos em parceria entre organizações não-governamentais, comunidades e governos.

Para a diretora da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Neila Batista, o prêmio significa o reconhecimento de uma ação que melhora a qualidade de vida de famílias do sertão nordestino. "Nossa metodologia atende àqueles que têm maior necessidade. Estabelecemos diretrizes de execução e monitoramento, beneficiando famílias do Cadastro Único, quilombolas e indígenas."

O coordenador da ASA e membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Naidison Baptista, diz que o prêmio da ONU é um sinal de que o trabalho deve continuar. "É um incentivo muito grande a todos os envolvidos, que fazem o projeto acontecer. Não só para a ASA, as famílias, os pedreiros, mas também para o MDS, que apoia bravamente o programa, transformando-o em uma política pública."

Esta não é a primeira premiação recebida pelo programa. A iniciativa já havia sido reconhecida, anteriormente, com o Prêmio Josué de Castro de Boas Práticas em Gestão de Projetos de Segurança Alimentar e Nutricional, na categoria Sociedade Civil, em 2008; o Prêmio ANA 2006, da Agência Nacional de Águas, na categoria Uso Racional de Recursos Hídricos; e o Prêmio ODM 2005, organizado pelo governo federal, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD Brasil) e Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade.

Andar quilômetros para pegar água e cozinhar usando lenha. Atividades quase impensáveis nos dias de hoje, em que velocidade e conforto governam nossa vida. Mas para mulheres como Ivanilda Torres, 44, Edite Maria da Silva, 63, e Maria Irene Silva, 51, impensável seria, há apenas oito anos, ter água a poucos metros de casa e acender um fogão a gás. As três, que vivem no agreste de Pernambuco, viram suas experiências serem radicalmente transformadas com a chegada de uma bem-vinda desconhecida: a Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA), entidade que agrega cerca de 750 ONGs dedicadas a melhorar a vida da população do semiárido. 

A melhora materializa-se em ações como a construção de cisternas para o estoque de água e de biodigestores (equipamentos que produzem gás de cozinha a partir do esterco de animais). Foi com essas tecnologias que o que era básico para a maioria - mas um luxo para as três - virou realidade. 

UM MILHÃO DE CISTERNAS "Olha a cor da água que eu bebia", diz Edite, segurando um copo contra o sol. O líquido marrom-claro, que hoje serve para matar a sede dos animais e regar as plantações ao redor de seu sítio, foi, durante anos, bebida por ela e pelos cinco filhos. A renda familiar vinha do trabalho nas lavouras da região. "Renda" é, na verdade, uma maneira formal de nomear os escassos 6 reais que Edite recebia por dia. Podia ser pior. "Várias vezes, o dono da plantação chegava e dizia que a venda dos produtos estava ruim e eu e meu filho, que me ajudava, ganhávamos 3 reais cada um", conta. 

Essa vida começou a virar passado em 2004, quando a família foi escolhida para receber uma cisterna de 16 mil litros da ASA, por meio do programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), realizado em parceria com o governo federal. As cisternas servem para estocar, para o período de seca, a água das chuvas, que ocorrem em apenas três meses do ano. No tanque onde a água é estocada, estão garantidos oito meses de água limpa para beber e cozinhar (média para cinco pessoas). Em 2009, Edite foi beneficiada com outra cisterna, a do tipo "calçadão", de 52 mil litros, conseguida por meio do programa Uma Terra Duas Águas (P1+2). Essa é voltada para guardar água para os animais e para irrigar hortas que alimentam as famílias e servem como fonte de renda (o excedente de frutas e legumes pode ser vendido em feiras). "Se me perguntarem o que é uma cisterna, posso dizer que é uma estrutura de cimento e ferro. Mas na verdade, para mim, é um paraí¬so. É meu borboletal, foi onde eu me transformei", diz Edite. 

O acesso à água potável não é, no entanto, o principal acontecimento na vida dessa mulher, que já morou em São Paulo e no Piauí em busca de uma vida melhor. O que fez a diferença foi a maneira como esse acesso se deu. Essa é a grande mudança promovida pela ASA: todas as famílias que recebem as cisternas passam por um processo de capacitação que incentiva a autonomia de cada núcleo familiar e ensina a utilizar a água de forma eficiente. A escolha de quais famílias irão receber as cisternas passa por vários critérios, como número de menores e idosos na casa, se esta é chefiada por mulheres, se o núcleo recebe o Bolsa-Família (ou seja, se tem baixa renda comprovada). 

AUTONOMIA 
Foi o que aconteceu com Ivanilda Torres, da cidade de São Caetano, que duplicou a produção de suas hortas depois que a cisterna tipo calçadão, de 200 metros quadrados, foi construí¬da ao lado de sua casa. Antes, ela realizou um curso de gestão de água para produção de alimentos, quando aprendeu, por exemplo, quais espécies são mais resistentes ao clima do semiárido. Nessa etapa os agricultores também desenham, junto com os técnicos das organizações que compõem a ASA, um mapa da propriedade onde vivem. A partir desse mapa, o agricultor vai vendo o que é mais urgente para que sua área se torne mais produtiva. "Destinamos 800 reais para cada família comprar animais ou sementes e instalar, por exemplo, cercas e galinheiros. Depende da necessidade de cada núcleo", diz Carlos Magno, do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, uma das entidades da ASA. 


Todo o processo tem a participação dos moradores, que ajudam a construir as cisternas. Há, por exemplo, capacitação para a função de pedreiro, o que gera mais renda para as comunidades. Foi o próprio José Estêvão da Silva, 59 anos, da zona rural de Tacaimbó, quem construiu as duas cisternas de seu sítio. "Antes, eu acordava à meia-noite para buscar água no chafariz. Era uma fila enorme, todo mundo esperando. Só voltava às 7 da manhã. E só chegava água dois dias na semana", diz.

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