Luis Nassif, via Jornal GGN
O dono do banco onde
estava a conta “Marilia” – que abastecia o propinoduto da Siemens, no
cartel dos trens de São Paulo – é a mesma pessoa que vendeu o
apartamento adquirido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, logo
que deixou a Presidência. E é um veterano conselheiro de políticos.
Trata-se do banqueiro Edmundo Safdié. Em 2006, tornou-se réu, acusado de
lavagem de dinheiro do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, incurso na
Ação Pena Pública nº 2004.61.81.004588-1, que tramita em segredo de
Justiça (clique aqui).
A rigor, a compra do apartamento pode ser apenas coincidência. O apartamento adquirido – 450 m2
do Edifício Chopin, rua Rio de Janeiro, Higienópolis – fica a poucos
metros do antigo apartamento de FHC, na rua Maranhão. Na época, FHC
anunciou que pagara R$1,1 milhão pelo apartamento – valor considerado
muito baixo por moradores do edifício. Mas também podia ser um agrado de
Safdié, para se vangloriar de vender um imóvel para um ex-presidente.
Em outras operações, Safdié foi mais controvertido. E a reincidência
na lavagem de dinheiro – após o caso Pitta – pode explicar as últimas
movimentações de Edmundo Safdié, vendendo seus ativos para outro banco.
A conta “Marília” estava no Leumi Private Bank da Suíça, antigo Multi
Commercial Bank. Entre 1998 e 2002 – segundo documentos em poder da
Polícia Federal –, a conta movimentou €20 milhões. Alston e Siemens – as
principais financiadores do esquema – compartilhavam a conta. Segundo
revelou ao Estadão o ex-presidente da Siemens Adilson Primo, a
movimentação era feita pela própria matriz da empresa. Fontes do
Ministério Público Estadual informaram a IstoÉ que dessa conta
saiu o dinheiro para o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE)
Robson Marinho e para os lobistas Arthur Teixeira e José Geraldo Villas
Boas (leia aqui).
Nesse período, a instituição era controlada por Safdié, da tradição
dos banqueiros libaneses-judeus que aportaram no Brasil no pós-Guerra e
especializaram-se em administrar fortunas nos grandes mercados
internacionais.
Edmundo Safdié (foto)
foi um brilhante banqueiro que fundou o Banco Cidade em 1965 e, nos
tempos do regime militar, mantinha estreitas relações com o general
Golbery do Couto e Silva.
Em 1966 entrou no ramo de gestão de fortunas e administração de
recursos no mercado internacional. Adquiriu em Genebra, Suíça o Multi
Commercial Bank, mais tarde convertido em Banco Safdié. Em 1988 criou o
Commercial Bank of New York (clique aqui)
No final dos anos de 1990, a família decidiu concentrar-se em gestão
de patrimônio, reorganizou as empresas e concentrou a gestão de
patrimônio no banco suíço.
No final de 2012, o Banco Safdié foi adquirido pelo Leumi, maior
banco de Israel pelo critério de ativos. No Brasil, a família
concentrou-se apenas na gestão de ativos depois que a crise de 2008
lançou desconfiança geral sobre gestores de ativos. Também podem ter
contribuído para a reestruturação do grupo as ações internacionais
contra lavagens de dinheiro, que expuseram Edmundo no caso Celso Pitta (clique aqui).
O apartamento de FHC
Logo que saiu da Presidência, Fernando Henrique Cardoso adquiriu de
Edmundo Safdié o apartamento no 8º andar do Edifício Chopin, a poucos
metros de seu apartamento anterior.
Na época, anunciou-se o preço de R$1,1 milhão. Embora anterior ao
boom de imóveis em São Paulo, considerou-se que o preço estava
subavaliado, para um imóvel de 450 metros quadrados (clique aqui).
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