Foi um desastre radioativo que aconteceu em Goiânia, em 1987. Ocorreu após dois catadores de lixo entrarem em contato com uma porção de cloreto de césio, o césio-137. O componente químico ficava dentro de um aparelho de tratamento de câncer, que estava em uma clínica abandonada na capital de Goiás. Foram necessários apenas 16 dias para que o “brilho da morte”, como a substância ficou popularmente conhecida, matasse quatro pessoas e contaminasse centenas.
Radioativo
“O acidente atingiu tantas pessoas porque aconteceu em uma zona urbana”, explica Alfredo Tranjam, presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Considerado o maior desastre radiológico da história, ele é tido como uma referência mundial pela Agência Internacional de Energia Atômica quando se pensa em intervenção para futuros acidentes.
BRILHO MORTAL
Em duas semanas, a porção de 19 g causou o maior desastre radiológico do mundo.
A história começa em 1985, quando um instituto de tratamento de câncer desativa sua unidade de Goiânia. Quase todos os equipamentos foram levados, mas uma máquina de teleterapia (espécie de radioterapia) é deixada para trás.O aparelho usava cloreto de césio em pó como fonte de energia.
Em setembro de 1987, o aparelho chama a atenção de dois catadores de lixo. Pensando em vender as peças, eles a levam paracasa, desmontam-na e entram em contato com uma cápsula de césio-137. Em dois dias, os catadores sentem os primeiros sintomas da intoxicação radioativa: náuseas, vômitos, tonturas e diarréia.
O dono de um ferro-velho compra a máquina e manda dois de seus funcionários retirarem as peças mais valiosas. Dentro do aparelho, eles acham a cápsula com 19 g de césio. À noite, seu brilho verde-azulado chama a atenção. Pensando ser algo de grande valor, o proprietário do ferro-velho a leva para casa.
Orgulhoso de ter em mãos algo que parecia muito valioso, o dono do ferro-velho recebe a visita de muita gente. Assim como os dois catadores de lixo, todas as pessoas que chegam perto da substância têm os mesmos sintomas de indisposição, mas ninguém suspeita da causa.
O irmão do dono do ferro-velho o visita e leva um pouco da substância para casa. Durante o jantar, ele o mostra para seus filhos e contamina a comida sobre a mesa. Sem perceber, sua filha de 7 anos ingere pão com um pouco do pó. Um mês depois, Leide das Neves Ferreira morre. É a primeira vítima do césio-137.
Duas semanas depois, a esposa do dono do ferro-velho percebe que todas as pessoas expostas ao pó brilhante ficavam doentes. Intrigada, leva a cápsula para a Vigilância Sanitária, que imediatamente identifica a substância radioativa. A mulher que ajudou a desvendar o mistério é a segunda vítima fatal.
Em 30 de setembro, técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e policiais militares começam a descontaminação da região. Mais de 112,8 mil pessoas são monitoradas (129 estavam gravemente contaminadas) e 6 mil toneladas de material contaminado vão para um depósito especial. Oficialmente, quatro pessoas morreram devido à exposição à radiação. Mas, de acordo com a Associação de Vítimas do Césio-137, o número de vítimas é bem maior e chega a 80.
FONTES Alfredo Tranjam, presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), e Superintendência Leide das Neves (SuLeide).
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